quinta-feira, 11 de março de 2010

41) Lógica, para que te quero?


Sob o título Lógica, para que te quero? - o mesmo de que me apropriei evidentemente - Desidério Murcho publicou certo comentário a que veio a acrescentar as seguintes palavras...

Vinícius Portella

Porto Alegre,
11 0316 mar 2010.



Desidério Murcho disse...


Já agora vale a pena acrescentar o seguinte. A lógica não é um algoritmo para solucionar problemas filosóficos. Não é como uma máquina na qual metemos numa ponta os problemas e saem da outra as soluções. A lógica, formal e informal, é apenas um instrumento de controlo de erros. Permite-nos raciocinar melhor, evitar erros, ser mais criativos, ver mais longe. Não é uma água de alcatrão, uma solução milagrosa. É apenas um instrumento, como um microscópio para um cientista: não faz o trabalho por ele.

O ridículo da rejeição da lógica, contudo, é muito maior do que o ridículo que seria a rejeição do microscópio. É que é possível rejeitar coerentemente o microscópio — basta não o usar — ao passo que a rejeição da lógica é sempre incoerente — a pessoa que diz rejeitá-la, usa à mesma a lógica, porque não pode parar de raciocinar; apenas se recusa a raciocinar com cuidado (porque se está nas tintas para isso e porque o que lhe interessa realmente na filosofia é ter pensamentos bonitos, edificantes, inspiradores, ou então interessa-lhe exprimir a sua raiva, frustração, etc.). E, claro, quem diz recusar a lógica apressa-se a aplaudir qualquer resultado da lógica mais técnica que pareça confirmar o que ela já pensa. É um conto do vigário: se sair caras, ganho eu, se sair coroas perdes tu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário