domingo, 25 de julho de 2010

183) Inovação Social e Desenvolvimento: um caminho para o futuro, por Paulo Araújo.

Inovação Social e Desenvolvimento: um caminho para o futuro

Paulo Araújo

Uma nova perspectiva se abre para o trabalho dos Cientistas Sociais na esfera produtiva, nos governos, e no terceiro setor. É a inovação. Vários conceitos, de vários pontos de vista se colocam para tentar dar ares acadêmicos aquilo que nos diferencia desde o surgimento da humanidade, enquanto seres culturais inovadores. Há quem diga que a primeira grande inovação surgiu quando algum antepassado nosso decidiu não temer o fogo e tentou "tocá-lo" sem queimar-se usando alguma "ferramenta", um galho ou um osso, e percebeu que o instrumento se modificava e que poderia reter o fogo e transportá-lo, até sua domesticação que gerou aquecimento e o cozimento dos alimentos, modificando toda a nossa evolução como espécie. Também inovamos quando domesticamos pela necessidade de alimentação de cada vez mais indivíduos, seja pelas limitações climáticas seja pelo crescimento vegetativo, plantas e animais necessários ao nosso sustento. Inovamos na habitação, que passou de "tocas naturais" a casas com telhados, inovamos ao colocá-las umas sobre as outras nas cidades poupando território, enfim, somos definitivamente seres inovadores. Mas o que é inovação afinal? Gosto de minha definição simples, direta, clara, e objetiva: inovar é fazer diferente aquilo que faça a diferença! Enfim, a inovação não é apenas mudança, mas a transformação da maneira de fazer as coisas e do padrão da organização, anterior a sua introdução, produzindo ganhos. Nos mercados isso significa a criação de novas oportunidades e não apenas o aproveitamento das existentes. Significa, por exemplo, mesclar o teatro com o circo e superar os altos custos dos animais e o baixo preço dos ingressos, e conquistar para além do tradicional público infantil, os adultos sonhadores, como o fez o Cirque Du Soleil ao inovar na arte circense. Significa transformar o mercado quase inelástico do setor aéreo, numa opção comparável ao automóvel como fizeram a Southwest Airlines nos EUA e sua cópia brasileira, a Gol Linhas Aéreas, o nosso ônibus de asas. Ou como fizeram os Stúdios Pixar no mundo da animação, unindo tecnologia e criatividade, dando-a uma terceira dimensão, ou a Starbucks que encarou a venda de cafés como um estilo de vida e não como um simples produto corriqueiro (aliás, o café é péssimo, pelo menos para o gosto brasileiro). E tantos outros exemplos, como o que tentamos fazer com o conceito de Governança em Porto Alegre e em Natal, e com as metodologias de desenvolvimento local no terceiro setor, da Gestão Compartilhada de APLs - Arranjos Produtivos Locais, Brasil afora, ou como no conceito de FIB - Felicidade Interna Bruta em detrimento do PIB - Produto Interno Bruto como índice norteador dos esforços desenvolvimentistas, visando a felicidade ao invés do dinheiro, que já é tentado no Bhutão e que chama a atenção do PNUD para as próximas décadas pós "Objetivos do Milênio". Estamos entrando na era das idéias, onde "produzir" apenas produtos deixa de ser relevante, pois a China mostra ao mundo que é possível fazer de tudo, de maneira simples, barata, e rápida. Produtos passam a ser não apenas produtos, mas idéias, estilos de vida, modelos mentais conformadores dos padrões de consumo, representam, enfim, a "culturalização" das mercadorias. O consumo atingiu seu estado de "arte". A imagem vale mais que o real. A marca se sobrepõe ao produto. Disputar mercados nesse contexto é lutar como feras por um pedaço cada vez menor de alimento. Inovar significa encontrar o nicho, aquela "fatia" que ampliada e favorecida pelas redes sociais e pelas tecnologias de informação e comunicação, consegue ganhar escala e gerar riqueza. Aliás, "fatiar fino" e perceber as sutilezas das diferenças dos padrões de consumo passou a ser a regra na busca de novos mercados. Para ser capaz de inovar é preciso ser capaz de quebrar paradigmas, de pensar lateralmente, de romper as amarras do conhecimento compartimentalizado das disciplinas. É preciso formação eclética e visão ampliada. É preciso, perceber, sentir, ver de outra forma, e enfim, inovar. Os cientistas sociais têm, se assim perceberem, uma vantagem adicional nessa corrida inovadora, onde a cultura e as realidades locais são as matérias-primas dos produtos e dos mercados, que passam a coexistir numa lógica de espaço-fluxo, criadores-criaturas, forma-conteúdo, produto-consumo, ou consumo-produto. Trabalho agora, como Consultor Sênior de um Projeto Nacional do SEBRAE, em Pernambuco, com 10 ALI - Agentes Locais de Inovação, em 07 setores da economia: turismo e gastronomia, construção civil, gesso, tecnologia da informação e comunicação, móveis, e panificação, que têm o desafio de dentro das amarras de um projeto institucional com limitações na percepção do conceito ampliado de inovação e suas implicações na corporação, introduzirem uma cultura inovadora nas pequenas e micro empresas visando sua sustentabilidade. Sustentabilidade esta entendida como a introdução de elementos inovadores em gestão, nos processos, nos produtos e serviços, capazes de aumentar o faturamento e de favorecer sua sobrevivência no cenário competitivo traçado, através da diferenciação inovadora, seja em valor, seja na descoberta de novos negócios e nichos de mercado ainda inexplorados. É curioso ao falar sobre inovação, ver empresas se auto-proclamarem como inovadoras sociais. A 3M é um exemplo do que digo, dentre outros tantos centros difusores da inovação como o Innocentive(laboratório mundial de "cérebros"), Ninesigma, InnovationSeed, IDEO(design), etc. A inovação deverá estar na pauta das discussões sobre negócios e nas discussões sobre as reformas curriculares pelos próximos anos, assim como o gerenciamento de projetos e o empreendedorismo, começaram a figurar como assuntos a serem levados em conta na formação acadêmica dos futuros ocupantes dos postos de trabalho. O que fazemos aqui, é apenas antecipar o debate e chamar a atenção para os rumos a serem seguidos na direção da empregabilidade dos nossos pares, os cientistas sociais. Esperamos contribuir, através da nossa Federação Nacional dos Sociólogos, para que possamos unir a categoria e pensarmos um grande projeto capaz de inovar na nossa formação e proporcionar aos cidadãos brasileiros uma oportunidade de desenvolvimento de sua cultura inovadora, através de uma "nova política", a política exercida diretamente, pela "Governança Democrática". Uma política capaz de arar o terreno fértil do empreendedorismo e da emancipação econômica das parcelas excluídas desse debate sobre desenvolvimento. Demos aqui, apenas um pequeno passo inicial. Essa é a nossa vontade. Esse é o nosso novo desafio!

182) Semana do Gestor de Projectos - Ciclo de Conferências e Workshops sobre Gestão de Projectos 2010.

Poderemos nós, gestores de projetos, utilizar as lições do passado nos nossos projectos atuais e futuros?

Os desafios que se colocam hoje não são diferentes do contexto de outras épocas - igualmente difícil mas cheio de oportunidades.

Com a devida separação temporal, estamos perante as mesmas condicionantes: caminhos nunca antes traçados, recursos escassos, riscos, mudança etc.

E perante esses desafios comuns a todos os projectos e áreas de negócios, o que fará a diferença?

Este evento propõe um espaço para reflexão e partilha de experiências no âmbito da Gestão de Projectos, tendo como ponto de partida a reutilização do conhecimento adquirido pelos gestores ao longo dos anos, em que cada lição deve convergir numa acção destinada a melhorar nas organizações aspectos como a política, a visão, procedimentos e práticas.

Muitas organizações possuem processos de lições aprendidas, criados pelos sistemas ISO 9001 e outros, mas poucas são aquelas que os sistematizam e, de um modo geral, estes não são aplicados.

O que impede as empresas de aproveitar essas lições valiosas, de modo a reduzir o risco, diminuir os custos, a minimizar a "reinvenção constante da roda" e melhorar os processos dos negócios?

Estas são algumas questões que pretendemos abordar com este evento de Gestão de Projectos, contamos com a vossa presença, inscreva-se já.


           



Vídeo Promocional SGP 2010: aqui.
Sítio do evento: aqui.
Documento com o plano do evento (conferências, painéis e workshops), apresentação dos promotores, convite a patrocínios e contactos: aqui.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

181) Carta a um poeta. (Mário Quintana).

CARTA

Meu caro poeta,

Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola tracada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súditos de Ramsés II, ou para o próprio Ramsés, se fores palaciano. Quanto a escrever para os contemporâneos, está muito bem, mas como é que vais saber quem são os teus contemporâneos? A única contemporaneidade que existe é a da contingência política e social, porque estamos mergulhados nela, mas isto compete melhor aos discursivos e expositivos , aos oradores e catedráticos. Que sobra então para a poesia? - perguntarás. E eu te respondo que sobras tu. Achas pouco? Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano. O Profeta diz a todos: "eu vos trago a verdade", enquanto o poeta, mais humildemente, se limita a dizer a cada um: "eu te trago a minha verdade." E o poeta, quanto mais individual, mais universal, pois cada homem, qualquer que seja o condicionamento do meio e e da época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano. Embora, eu que o diga, seja tão difícil ser assim autêntico. Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócrifos!

Meu poeta, se estas linhas estão te aborrecendo é porque és poeta mesmo. Modéstia à parte, as disgressões sobre poesia sempre me causaram tédio e perplexidade. A culpa é tua, que me pediste conselho e me colocas na insustentável situação em que me vejo quando essas meninas dos colégios vêm (por inocência ou maldade dos professores) fazer pesquisas com perguntas assim: "O que é poesia? Por que se tornou poeta? Como escrevem os seus poemas?" A poesia é dessas coisas que a gente faz mas não diz.

A poesia é um fato consumado, não se discute; perguntas-me, no entanto, que orientação de trabalho seguir e que poetas deves ler. Eu tinha vontade de ser um grande poeta para te dizer como é que eles fazem. Só te posso dizer o que eu faço. Não sei como vem um poema. Às vezes uma palavra, uma frase ouvida, uma repentina imagem que me ocorre em qualquer parte, nas ocasiões mais insólitas. A esta imagem respondem outras. Por vezes uma rima até ajuda, com o inesperado da sua associação. (Em vez de associações de idéias, associações de imagem; creio ter sido esta a verdadeira conquista da poesia moderna.) Não lhes oponho trancas nem barreiras. Vai tudo para o papel. Guardo o papel, até que um dia o releio, já esquecido de tudo (a falta de memória é uma bênção nestes casos). Vem logo o trabalho de corte, pois noto logo o que estava demais ou o que era falso. Coisas que pareciam tão bonitinhas, mas que eram puro enfeite, coisas que eram puro desenvolvimento lógico (um poema não é um teorema) tudo isso eu deito abaixo, até ficar o essencial, isto é, o poema. Um poema tanto mais belo é quanto mais parecido for com o cavalo. Por não ter nada de mais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da Criação.

Como vês, para isso é preciso uma luta constante. A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos 17 anos. Há na Bíblia uma passagem que não sei que sentido lhe darão os teólogos; é quando Jacob entra em luta com um anjo e lhe diz: "Eu não te largarei até que me abençoes". Pois bem, haverá coisa melhor para indicar a luta do poeta com o poema? Não me perguntes, porém, a técninca dessa luta sagrada ou sacrílega. Cada poeta tem de descobrir, lutando, os seus próprios recursos. Só te digo que deves desconfiar dos truques da moda, que, quando muito, podem enganar o público e trazer-te uma efêmera popularidade.

Em todo caso, bem sabes que existe a métrica. Eu tive a vantagem de nascer numa época em que só se podia poetar dentro dos moldes clássicos. Era preciso ajustar as palavras naqueles moldes, obedecer àquelas rimas. Uma bela ginástica, meu poeta, que muitos de hoje acham ingenuamente desnecessária. Mas, da mesma forma que a gente primeiro aprendia nos cadernos de caligrafia para depois, com o tempo, adquirir uma letra própria, espelho grafológico da sua individualidade, eu na verdade te digo que só tem capacidade e moral para criar um ritmo livre quem for capaz de escrever um soneto clássico. Verás com o tempo que cada poema, aliás, impõe sua forma; uns, as canções, já vêm dançando, com as rimas de mãos dadas, outros, os dionisíacos (ou histriônicos, como queiras) até parecem aqualoucos. E um conselho, afinal: não cortes demais (um poema não é um esquema); eu próprio que tanto te recomendei a contenção, às vezes me distendo, me largo num poema que vai lá seguindo com os detritos, como um rio de enchente, e que me faz bem, porque o espreguiçamento é também uma ginástica. Desculpa se tudo isso é uma coisa óbvia; mas para muitos, que tu conheces, ainda não é; mostra-lhes, pois, estas linhas.

Agora, que poetas deves ler? Simplesmente os poetas de que gostares e eles assim te ajudarão a compreender-te, em vez de tu a eles. São os únicos que te convêm, pois cada um só gosta de quem se parece consigo. Já escrevi, e repito: o que chamam de influência poética é apenas confluência. Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional, e que no entanto me deixaram indiferente. De quem a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família.

Enfim, meu poeta, trabalhe, trabalhe em seus versos e em você mesmo e apareça-me daqui a vinte anos. Combinado?

Mario Quintana

180) Cuidado, por Mário Quintana.

CUIDADO
A poesia não se entrega a quem a define.
Mario Quintana (Caderno H)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

179) A poderosa revelação pelo derrame de Jill Bolte Taylor.

Jill Bolte Taylor teve uma oportunidade de pesquisa que poucos cientistas cerebrais desejariam: ela sofreu um grave derrame, e observa enquanto suas funções de movimento, fala e autoconsciência entram em falência, uma a uma. Uma história incrível.

178) Omar Ahmad: Mudança política com papel e caneta.

"Políticos são criaturas estranhas," diz o político Omar Ahmad. E a melhor maneira de fazê-los notar sua reivindicação é escrever uma carta por mês. Ahmad mostra por que a correspondência antiquada faz mais efeito do que e-mail, telefone ou mesmo um cheque -- e ele compartilha quatro simples etapas para escrever uma carta que funciona.

177) Negro, eu?! (TV Pirata).

Um pouco de humor é sempre bom e aconselhável. Mais ainda em tempos de politicamente correto. Pretendo, no futuro, escrever uma série de considerações sobre este vídeo, abordando certas questões envolvendo o negro no nosso país e indo além do já roto "o negro não se reconhece como tal". Espero que a despeito de considerações mais sérias, o vídeo ainda provoque boas risadas àqueles que o virem aqui.

Vinícius Portella

Porto Alegre,
15 0501 jul 2010.

176) A Ditadura do Discurso Único.

Chimamanda Adichie: o perigo de uma única história

Nossas vidas, nossas culturas são compostas de muitas histórias sobrepostas. A escritora Chimamanda Adichie conta a história de como ela encontrou sua autêntica voz cultural - e adverte-nos que se ouvimos somente uma única história sobre uma outra pessoa ou país, corremos o risco de gerar grandes mal-entendidos.

175) Moda.

Não sei o que passa por minha cabeça, mas resolvi adicionar à lista ao lado o blog de Glória Kalil (para homem). Sempre fui um comprador compulsivo de livros e um leitor voraz, pouco me importando em saber o que ditava a moda. Entretanto, o contato com uma excelente pessoa me fez rever isso. A indústria da moda já é gigantesca no Brasil e deve crescer muito mais. Há também um fenômeno interessante ocorrendo: a moda está chegando às classes mais baixas, diferente de outros tempos em que era feita para o consumo das classes mais abastadas. Enfim, merece atenção.

Vinícius Portella

Porto Alegre,
15 0305 jul 2010.

P.S: para a rapaziada macha deste Brasil, recomendo a entrevista do figurinista Paulo Tesourão a Zeca Bordoada na TV Macho. Para quem quer saber de moda "nesse mundo cheio de frescura sem desafinar". 

174) Stephen Kanitz adere ao "Cala Boca, Galvão!" e ao combate à "Bullshit".

domingo, 11 de julho de 2010

173) Uma Final com Velásquez e Rembrandt no Banco de Reservas.


Hoje a Fúria foi maior que a Laranja Mecânica: a Espanha superou os Países Baixos na final da Copa do Mundo. Não gostei muito do jogo; marcado por faltas e cartões, não foi bonito de se ver. Eu esperava uma partida tecnicamente muito melhor, mais movimentada e muito menos truculenta. Gostaria de ter visto lances tais quais pinturas dignas de Velásquez ou de Rembrandt. A despeito disso, os espanhóis estão de parabéns por seu feito e se mostraram, de fato, os melhores do mundo, ainda que não tão incisivos quanto deveriam ser.


Vinícius Portella

Porto Alegre,
11 2118 jul 2010. 

sábado, 10 de julho de 2010

172) Elogio à Celeste Olímpica.

A equipe Uruguaia está de parabéns pela ótima campanha que fez neste mundial. A Alemanha, de fato, tem um time superior tecnicamente ao uruguaio. Todavia, não se pode creditar a isso o motivo de sua vitória. O jogo foi decidido no detalhe e, até o último momento, permanecia com o resultado aberto. Particularmente, penso que o goleiro oriental, Fernando Muslera, não estava em seu melhor momento e falhou em situações decisivas. Assim como Luis Suárez e Diego Forlán tiveram grandes chances de mudar o resultado da partida e não o fizeram. Aqui não se tem por intuito achar culpados, apenas ressaltar, com um ou outro exemplo, uma série de fatores que concorreram para a vitória da Alemanha e que não repousaram num único jogador, mas em seu coletivo. Ademais, a Alemanha é uma grande equipe e fez muito bem seu trabalho. Se venceu, foi principalmente por seus méritos e a Celeste Olímpica mostrou seu valor lhe fazendo frente.

Vinícius Portella

Porto Alegre,
10 1751 jul 2010.

171) Sangria ou suco de laranja?

Está findando a Copa do Mundo de Futebol e logo já saberemos quem será o campeão. Há tempos não sabíamos o que era uma final sem campeões. Isto não acontecia fazia 32 anos, desde que a Holanda enfrentara a Argentina no mundial de 1978. Apesar de ter visto vários jogos desta competição, não a pude acompanhar com muita atenção e não poderia tecer maiores comentários. Todavia, penso poder dizer uma ou outra coisa.

Nunca vimos o futebol por tantos ângulos como o vimos na África do Sul, fato que fez ressaltar em muito os erros de arbitragem que talvez não tenham sido em número muito maior do que o de outras ocasiões. De positivo, finalmente a conservadora FIFA se dignou a estudar o emprego de tecnologias que minorem ou eliminem os erros de arbitragem. O futebol deve passar por algumas mudanças neste sentido e tomar uma nova configuração, o que de modo algum implica dizer que serão drásticas as mudanças. Ademais, a Jabulani - a bola usada em campo - aprontou muito e enganou muitos jogadores, sobretudo, goleiros. Não sei qual será seu destino depois da final, mas penso que não tenha despertado muitos amores, nem deva ser adotada em outras competições. A África do Sul também apresentou ao mundo o som infernal e chato da vuvuzela, algo ao par de Galvão Bueno e que espero nunca mais escutar.

Quanto às equipes que competiram por esta taça, eu gostei muito de ver jogar estes que, merecidamente, encontram-se entre as quatro primeiras colocações. Eu não penso que esta copa tenha sido das que apresentou os melhores jogos - iniciamente estavam muito truncados, mas foram se soltando. Nosso Brasil não apresentou desde o início uma postura de campeão, ainda que num ou outro momento a tenha ostentado; os meios de comunicação criticaram Dunga, muitas vezes injustamente, mas este por sua vez demonstrou sua vontade ao convocar uma equipe de jogadores mais enquadrados em seu modelo disciplinar, do que propriamente por sua técnica individual. Não estou dizendo que a qualidade do jogador não estava em questão, mas que a disciplina foi o aspecto fundamental na escolha do grupo e levou nosso técnico a alguns equívocos. Paro por aqui, pois nossa seleção não merece maiores comentários, tampouco alguns repórteres nada inteligentes que são vetores de bobagens acríticas e deletérias. Mas passemos aos quatro grandes. 

A Alemanha mostrou-nos mudanças importantes em seu modo de jogar, estando muito mais ofensiva do que de costume, faltando-lhes ainda criatividade coletiva e individualmente. A Espanha é dona de um meio-campo impressionante, excelente, e faz passes maravilhosos; sem, no entanto, apresentar grande incisividade em seus ataques: daí que venceu com placares magros seus jogos. A Holanda (mais acertadamente os Países Baixos) é um país já com tradição no futebol e que sempre se sai bem nos mundiais, ainda que nunca tenha logrado o título. Nesta copa, não apresentou uma equipe espetacular, mas soube fazer bem seu dever de casa contando tanto com ofensividade ao derrotar seus adversários de maneira convincente, como também soube organizar sua marcação e sua defesa, de modo que se tornou a equipe mais faltosa da competição. Foi competente, soube controlar-se emocionalmente e tem todo o mérito em estar novamente disputando um título. Por fim, o Uruguai para mim foi a grande surpresa da Copa do Mundo de 2010. Chegou sem qualquer favoritismo, mas jogou um futebol bonito, ofensivo que por pouco não o levou à final. Não fosse o erro de arbitragem ao não marcar um impedimento, talvez teria superado a Laranja Mecânica. Depois de anos, novamente o Uruguai volta a estar na nata do futebol mundial e espero que assim se mantenha por muito tempo. Dá gosto de vê-lo assim.

Neste domingo, enfim saberemos quem será o campeão do mundo. Resta saber se serão os neerlandeses quem relaxarão ao desfrute de uma sangria, ou os espanhóis quem tomarão um delicioso suco de laranja. No entanto, faço minha as palavras de um determinado jornalista - estas laranjas andam bastante cítricas - e não sei se o vinho desta sangria é realmente do bom em todos os quesitos, não sei se a Espanha se defende com tanta fúria.

Hoje temos o jogo de Uruguai e Alemanha - creio que vai ser um bom jogo e nossos amigos da Banda Oriental têm-se mostrado peleadores até o último momento. Amanhã tudo estará resolvido, num jogo, penso e assim espero, de altíssimo nível.

Vinícius Portella

Porto Alegre,
10 0432 jul 2010.

170) Do Lugar Político de Isaiah Berlin.

"Nunca soube muito bem como me situar politicamente. Sempre me senti na extrema esquerda da Direita e na extrema direita da Esquerda; em conseqüência, tenho sido alvo de flechas de ambos os lados, e me sinto uma espécie de São Sebastião, inteiramente por minha culpa".
(Isaiah Berlin em correspondência com José Guilherme Merquior a 21.11.89)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

169) Nature reconhece a excelência da Plataforma Lattes.

Não gosto nem é meu intuito fazer propaganda institucional. Meu objetivo com este texto é unicamente evidenciar o problema e suscitar a reflexão sobre os pontos tratados no texto.

Vinícius Portella

Porto Alegre,
09 0439 jul 2010.
...........................
...........................

Texto de Julia Lane, diretora do programa Ciência da Ciência e Política de Inovação, da Fundação Nacional da Ciência, dos Estados Unidos, cita positivamente o sistema de currículos do CNPq

A medição e avaliação do desempenho acadêmico é agora um fato relevante na vida científica. É exatamente este assunto que o artigo "Let's make science metrics more scientific", publicado na revista "Nature" em 25 de março, aborda. Segundo o artigo, é de extrema importância para o desenvolvimento de um país criar um sistema aberto, apropriado e consistente que possa medir todas as atividades que compõem a produtividade acadêmica.

No texto, fica claro ser necessário construir uma ciência de medição cada vez mais moderna, confiável e melhor. Decisões que vão desde a posse à classificação e financiamento das universidades dependem da medição. E essa demanda deve englobar todos os interessados, desde as organizações de financiamento nacionais, universidades, pesquisadores, empresas e outras organizações de investigação científica, que juntas devem reunir forças para definir uma agenda de pesquisa e fomentar a construção de métricas científicas mais eficazes, fundamentada na teoria, construída com dados de alta qualidade e desenvolvido por uma comunidade com fortes incentivos para usá-los.

Ainda que muitos cientistas sejam freqüentemente reticentes ao se ver rotulados e classificados pelos bancos de dados, já que acreditam que seu trabalho é muito complexo para ser avaliado em termos tão simplistas como métricas, eles percebem a importância de avaliar a produção científica, as áreas mais investidas, as que ainda apresentam déficit, para que assim o país possa ter um respaldo da sua colocação a nível mundial, ou seja, as medições devem ser mais um estímulo para o desenvolvimento da ciência do país.

O primeiro passo para criar medições confiáveis é desenvolver uma infraestrutura competente. Hoje, grandes iniciativas, como a Web of Knowledge, da Thomson Reuters, e o U.S National Bureau of Economic Research Patent Database, buscam apurar os resultados científicos, como publicações, citações e patentes. Estes esforços são todos úteis, mas são trabalhosos e dependem de financiamento e inovação constantemente. Assim, é preciso um esforço internacional concreto para combinar, ampliar e institucionalizar essas bases de dados dentro de uma infraestrutura coesa e abrangente.

Plataforma Lattes

O artigo também cita a Plataforma Lattes, como exemplo de banco de dados completo e altamente qualificado. Atualmente, o Lattes fornece dados de alta qualidade com cerca de 1,6 milhões de currículos e 4 mil instituições cadastradas, sendo que 8% destes currículos são de doutores e cerca de 13% de mestres.

A Plataforma Lattes representa a experiência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na integração de bases de dados de currículos e de instituições da área de ciência e tecnologia em um único sistema de informações, cuja importância atual se estende não só às atividades operacionais de fomento do CNPq, como também às ações de fomento de outras agências federais e estaduais.

Dado seu grau de abrangência, as informações constantes da Plataforma Lattes podem ser utilizadas tanto no apoio a atividades de gestão, como no apoio à formulação de políticas para a área de ciência e tecnologia.

O Currículo Lattes registra a vida pregressa e atual dos pesquisadores, sendo elemento indispensável à análise de mérito e competência dos pleitos apresentados ao CNPq. A partir do Currículo Lattes, o CNPq desenvolveu um formato-padrão para coleta de informações curriculares hoje adotado não só pela agência, mas também pela maioria das instituições de fomento, universidades e institutos de pesquisa do país.

A adoção de um padrão nacional de currículos, com a riqueza de informações que esse sistema possui, a sua utilização compulsória a cada solicitação de financiamento e a disponibilização pública desses dados na internet, deram maior transparência e confiabilidade às atividades de fomento da agência.

Segundo o artigo publicado na "Nature", por criar incentivos adequados para que pesquisadores e instituições acadêmicas usem o banco de dados, por incentivar e avaliar de forma completa as pesquisas acadêmicas e por sua infraestrutura dinâmica e completa, o banco de dados Lattes é considerado um dos mais confiáveis do mundo atualmente.

O artigo conclui afirmando que os países devem dar prioridade a qualidade, transparência e modernização dos bancos de dados acadêmicos para melhorar ainda mais o desempenho cientifico mundial. Leia o texto na íntegra em http://www.nature.com/nature/journal/v464/n7288/full/464488a.html

(Assessoria de Comunicação do CNPq)




168) Maria Izabel Saraiva Noll fala sobre a campanha eleitora.

Por: Agência de Notícias
Data: 05/07/2010 Hora: 08:54

A campanha eleitoral começa oficialmente amanhã. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a cientista política Maria Izabel Noll examina o cenário para a disputa pelo governo gaúcho. Para a especialista, Yeda Crusius (PSDB), José Fogaça (PMDB) e Tarso Genro (PT) não terão ganhos se apostarem em uma campanha retrospectiva. “Todos já foram governo, estão na mesma situação”, avalia. Segundo ela, devem tentar apresentar novidades para a condução do Executivo estadual.

A professora da Ufrgs diz ainda que existe a tendência de polarização entre PT e PMDB. Apesar disso, sustenta que a candidatura de Yeda não pode ser desconsiderada, principalmente depois de confirmar a coligação com o PP. “Yeda não é carta fora do baralho. O PP é muito forte no Interior.”

Por tudo isso, Maria Izabel acredita que a eleição será disputada. Para Fogaça o desafio é consolidar sua presença entre os eleitores de centro, ampliando sua participação junto à esquerda. Tarso, ao contrário, precisa garantir os votos da esquerda e tentar recuperar uma fatia de eleitores ao centro do espectro político. “O PT rompeu com a classe média, com o setor do funcionalismo público, que era sua base de apoio, e isso teve um custo muito alto. O que aconteceu é que perdeu esse centro e quem o ocupou foi o PMDB.”

Sobre o cenário nacional, entende que Dilma Rousseff (PT) leva vantagem devido ao fato de o eleitor tender a adotar um voto conservador. Para a especialista, José Serra (PSDB) ainda não elaborou sua estratégia de campanha, e o discurso ainda está sem foco.

Jornal do Comércio – Qual é sua avaliação do cenário para a disputa ao Palácio Piratini?

Maria Izabel Noll – Tarso, Yeda e Fogaça são as três candidaturas mais importantes e de alguma maneira já estavam previstas. O quadro aqui no Rio Grande do Sul conta com uma questão importante que é a partidária. Isso é uma característica da política gaúcha, mas a ausência de estrutura partidária é uma dificuldade para o candidato. Nesse sentido, a aliança com o PP foi fundamental para a candidatura à reeleição de Yeda. Após quatro anos de governo, o PSDB é um partido que não decolou no Estado, é uma estrutura pequena. Mas hoje Yeda não é carta fora do baralho. O PP é muito forte no Interior.

A minha interpretação é que tanto 2004 na prefeitura da Capital quanto 2006 no governo do Estado foram eleições de baixar a poeira. Mas, em 2008 para a prefeitura, não tinha mais isso. Não tinha mais Fogaça paz e amor. Em 2010 também não vai ter paz e amor.

JC – Haverá polarização?

Maria Izabel – De alguma forma, vai se dar entre Fogaça e Tarso, pois se Yeda vier com o mesmo discurso da eleição passada, não emplaca. Seu trunfo é o equilíbrio das contas do Estado, e agora deve dizer que está pronta para investir. Não vai fazer nada retrospectivo, mas vai investir num voto prospectivo: “Arrumamos a casa, vamos fazer”. Tarso está centrado demais no voto retrospectivo, que não sei se é uma boa. O voto retrospectivo para a prefeitura até é útil, mas foi mal aproveitado na eleição passada. E, para o governo do Estado é difícil, pois o governo Olívio Dutra (PT) não foi unanimidade. E investir num voto retrospectivo para recuperar um setor é complicado. Olívio deixou o governo há quase dez anos. A memória política não existe. É preciso apontar para frente. Quem souber resolver essa equação tem chance de ir para o segundo turno.

JC – Teremos uma campanha prospectiva.

Maria Izabel – Se eu fosse candidato, apostaria. Temos três nomes (ao Piratini) que, a essas alturas, não vão ter muito ganho em fazer campanha retrospectiva. Todos já foram governo, estão na mesma situação. Yeda corre na frente, porque está lançando um programa atrás do outro. Mas tem as limitações dos partidos, tanto o dela, o PSDB, quanto o PP, que é forte no Interior, mas não se coloca nas grandes cidades. É isso que faz o jogo ser equilibrado. Ao mesmo tempo, o PMDB tem uma grande estrutura partidária no Estado e realmente distribuída. O PT tem grandes prefeituras, mas enfrenta restrições. O jogo de xadrez está montado.

JC – Como as forças políticas estão distribuídas e de que forma se movimentarão?

Maria Izabel – No Rio Grande do Sul, tem um espectro bastante largo. (Antonio) Britto empurrou o PMDB do centro para a direita. Fogaça retomou o centro, empurrou para a esquerda e ocupou muito do espaço que era do PT. Estamos numa disputa muito grande nesta eleição. O PT chegou ao centro quando conseguiu a classe média, no governo de Olívio e Raul Pont (na prefeitura de Porto Alegre). O que aconteceu é que perdeu esse centro e quem o ocupou foi o PMDB. Em ano eleitoral, o partido que vai estar num bom lugar de fato é o PMDB. Mas cometeu um erro quando abriu a porteira para que esse eleitorado de centro e identificado com o PMDB votasse em Yeda. Agora, terá que empurrar Yeda para a direita. Ela, não tendo o DEM, que é bem à direita, fica melhor posicionada e ainda morde o centro. A lógica do PT é a de que Tarso tem que caminhar em direção ao centro. O PMDB vai ter que afastá-lo para a esquerda e Yeda para a direita. Dependendo de como vai se dar o empurra-empurra dessas fronteiras, teremos o vencedor.

JC – Considerando a disputa nacional, o PSDB normalmente faz mais votos que o PT.

Maria Izabel - É um fenômeno interessante porque o Rio Grande do Sul tem sido o estado preferencial de José Serra. Agora, é uma escolha que não tem uma identificação partidária. Não vamos dizer que o PSDB é um partido que não cresceu, mas não houve, por exemplo, o que aconteceu no período em que o Pedro Simon foi governador. O PMDB se expandiu por todo o Interior. Ou depois, no governo Olívio. O PT cresceu no Interior também. Yeda não expandiu o seu partido, então, sua candidatura dependia dessa aliança com o PP.

JC - Persiste o antipetismo?

Maria Izabel - É uma coisa muito específica no Rio Grande do Sul, que beneficia Serra, assim como foi na candidatura (Geraldo) Alckmin (PSDB), na eleição presidencial passada. Os dados que analisei referentes à eleição de 2008 em Porto Alegre mostram que o PT rompeu com a classe média, com o setor do funcionalismo público, que era sua base de apoio, e isso teve um custo muito alto. Perdeu em setores médios importantes para o PMDB e P-Sol. Esse rompimento também aconteceu com os movimentos populares, principalmente em torno do Orçamento Participativo. Então, recompor é uma tarefa complicada neste pleito.

JC – Em 2004 já se rompeu a série de reeleições do PT na prefeitura da Capital.

Maria Izabel - O PT vem perdendo eleitorado. Ele expande por uns lados, pode fazer uma boa votação na Região Metropolitana, mas em Porto Alegre talvez já não seja a mesma coisa que foi há quatro anos, quando o Olívio fez uma votação superior a Yeda. Fogaça fará uma boa votação em Porto Alegre. E fez em 2008 uma excelente votação. Mas essas três candidaturas têm interrogações: primeiro, como fica a votação polarizada? Quer dizer, a tendência à polarização, que tem sido, há muitos anos, PT e PMDB. Sempre se interpretou a vitória de Yeda em 2006 como um desvio, que teria sido provocado pelo PMDB com aquele famoso cálculo errado que desviou os votos do (Germano) Rigotto (PMDB) e elegeu Yeda. Só que essa figura Yeda, criada pelo PMDB, se autonomizou. A essas alturas, o PMDB não é mais o elemento forte da coligação e, consequentemente, vão ter que enfrentar a criação que fizeram quatro anos atrás. Vão enfrentar a criatura, que tem algo contra ela, que é a tradição da não reeleição.

JC – Quais são as projeções para um segundo turno?

Maria Izabel - Ao que tudo indica, o PT passa o primeiro turno, as pesquisas de opinião indicam isso. O complicador é o fato de ter um eleitorado que está em torno dos 20%, podendo chegar aos 35%. Mas, observando os dados, vemos uma limitação. Em 1998, quando Olívio foi eleito, os 7% que fizerem a diferença vieram do PDT, que tinha Emília Fernandes como candidata. Depois dessa eleição, nunca mais conseguiram se eleger para o governo estadual. E a campanha aparentemente não deslanchou, vai ter um elemento que de alguma maneira ajuda o PMDB, que é o fato de ter o vice-presidente da Dilma, Michel Temer. Por um lado, Tarso se beneficia, pois Dilma está indo bem e a tendência é ela se fortalecer. Ninguém está querendo mudar muita coisa. Mesmo que Serra venha e diga: “Vou fazer mais”. Cada dia que passa, penso que o eleitor vota com o bolso. Serra enfrenta mais dificuldades. Além da definição do vice ter sido demorada, veio de um partido complicado (DEM) e é uma figura absolutamente desconhecida.

JC – Que postura deve adotar a candidatura de Serra?

Maria Izabel - A impressão que dá, no caso do Serra, é que precocemente houve uma avaliação de que não há como competir. A campanha de Serra está sem norte. Por quinze dias a campanha é radical, nos outros é conciliatória, reconhecendo o que o governo Lula fez. Depois, retorna a estratégia de desqualificar o opositor. Não há um discurso linear. É uma campanha sem marqueteiro, em última análise.

JC – Isso dificulta o debate?

Maria Izabel – A estratégia caótica da oposição deve dificultar o debate político. De alguma forma isso é decorrente do desempenho da oposição nesse segundo governo Lula. A oposição nunca chegou à conclusão sobre o seu papel. Ela poderia ter feito uma oposição crítica ou a famosa oposição construtiva. Mas ficou refém de um discurso vazio. Ao mesmo tempo denunciava, como a história de que a Dilma teria encomendado aquele dossiê. É um negócio desestruturado. De repente a oposição jogou para a imprensa o papel que deveria exercer. Ou o partido faz seriamente uma denúncia e tem credibilidade para isso, ou o denuncismo cai na banalidade.

JC – E como o cenário nacional repercute no Estado?

Maria Izabel - Se Dilma ganhar no primeiro turno, pode favorecer o PT. Por outro lado, ela já vai estar montando o ministério. À medida que vai fazendo isso, e visivelmente o nosso presidencialismo de coalizão vai exigir os acertos, provavelmente ela não possa subir em palanque. Já há uma tendência de que isso não aconteça nem no primeiro turno. Tanto o PMDB quanto o PT gaúchos estão na expectativa, dependendo muito de como o terceiro elemento, que é Yeda, vai se posicionar. Nem o PMDB vai poder bater muito, pois pode precisar se apoiar em Yeda num segundo momento, nem Yeda poderá ser radical demais.

JC – Neste ano as articulações ao Senado foram intensas.

Maria Izabel – Está acontecendo algo meio novo: coligação para o Senado. Antigamente os partidos tinham dois candidatos, faziam a campanha como manda o figurino. Agora virou moeda de troca. Já vi não só as pessoas falarem nisso, mas não duvido que em alguns lugares as próprias campanhas sejam feitas assim, chapa, venda casada: (Paulo) Paim (PT) e Ana Amélia (Lemos, PP), Rigotto e Ana Amélia. As candidaturas para o Senado entram no grande jogo das coligações. Não está mais sendo uma campanha específica.

JC – Fogaça vai só com Rigotto. Yeda vai só com a Ana Amélia. 
Tarso vai com Paim e a Abgail Pereira (PCdoB).

Maria Izabel – Ficou um cenário interessante. Isso leva a uma dimensão impressionante de acirramento, polarização para dentro do jogo político. Porque o Senado se alinhou com as coligações das candidaturas a governador.
................................................
Perfil

Maria Izabel Saraiva Noll é natural de Porto Alegre. Graduada em História pela Ufrgs, fez mestrado em Ciência Política na mesma universidade e doutorado na França, na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris. Foi ainda visiting scolar no Center for Latin American Studies na Universidade de Stanford. Já fez trabalhos sobre a política no Rio Grande do Sul, o modelo do Estado Novo e dedicou a maior parte de sua produção acadêmica ao estudo dos partidos políticos, democracia, Legislativo e eleições. Atualmente, tem pesquisado políticas públicas municipais. É coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Documentação Política Rio-grandense (Nupergs). Leciona na Ufrgs desde 1976. Já foi chefe do departamento de Ciência Política e coordenadora de pós-graduação em Ciência Política da Ufrgs.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

167) Kenny: "sobre a confusão entre relatividade e subjetividade" ou "a relatividade objetiva".

"Há um erro comum subjacente ao ataque Descartes-Hobbes à objectividade das qualidades sensoriais: uma confusão entre relatividade e subjectividade. É verdade que as qualidades sensoriais são relativas; isto é, que são definidas pelas suas relações com aqueles que as percepcionam sensivelmente. Para uma substância ter um certo gosto tem de ter a capacidade para produzir um certo efeito num ser humano ou noutro animal; e o efeito particular que produz irá variar em função de várias condições. Mas o facto de o gosto ser uma propriedade relativa não significa que não seja uma propriedade objectiva. «Ser maior do que a Terra» é uma propriedade relativa; contudo é um facto objectivo que o Sol é maior do que a Terra."

terça-feira, 6 de julho de 2010

166) Os direitos humanos e o imposto sobre grandes fortunas, por Everardo Maciel.

Os direitos humanos e o imposto sobre grandes fortunas
Everardo Maciel
O Globo, 5.07.2010

Li fragmentos, divulgados pela imprensa, do denominado III Plano Nacional de Direitos Humanos. Pareceu-me um amontoado de idéias em que predominam platitudes e bizarrices, reproduzindo velhos discursos marcados pelo radicalismo hiperbólico. Surpreendi-me, entretanto, com uma esdrúxula referência ao imposto sobre grandes fortunas.

Ao compulsar o Decreto nº 7.037, de 2009, que aprova o mencionado Plano, pude constatar que se trata de um modorrento calhamaço de 228 páginas, no qual há uma furtiva menção àquele imposto. A proposição seria “regulamentar a taxação do imposto sobre grandes fortunas previsto na Constituição”. A cerimoniosa referência ao texto constitucional não salva a pobreza da frase. Como regulamentar o que jamais foi instituído? Como “taxar” um imposto?

A inserção da proposta no Plano, por sua vez, é singularmente pitoresca. Ela integra o “Objetivo Estratégico II” (afirmação dos princípios da dignidade humana e da equidade como fundamentos do processo de desenvolvimento), que é parte da “Diretriz 5” (valorização da pessoa humana como sujeito central do processo de desenvolvimento), que, enfim, se inclui no “Eixo Orientador II” (desenvolvimento e direitos humanos). Essa gongórica articulação foi capaz de, impressionantemente, desembocar na malsinada proposição. É um assombroso salto lógico.

A extravagante idéia poderia ser vista apenas como concessão feita aos bolsões políticos “radicais, porém sinceros”, para usar um chavão frequentemente repetido no governo Geisel. Não é assim, entretanto. Tramita no Congresso Nacional projeto de lei complementar, já aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, que pretende instituir o imposto sobre grandes fortunas, menoscabando o tamanho da carga tributária brasileira.

O imposto sobre as Grandes Fortunas foi concebido na França, no início da década de 80, tendo sua denominação alterada, ainda naquela década, para Imposto de Solidariedade sobre a Fortuna. Poucos países copiaram tal inovação tributária, alguns deles por pouco tempo. Foi nesse contexto que a Constituição de 88 acolheu a novidade, conquanto condicionando instituição do imposto à edição de uma lei complementar.

A experiência mostrou que aquele imposto encerra inúmeros vícios de concepção. Tem baixa capacidade arrecadatória - na França, por exemplo, não representa mais que 0,7% das receitas tributárias. Sua base de cálculo é confusa, em virtude das dificuldades em estabelecer o piso de incidência e das inúmeras exclusões da base de cálculo – a exemplo de obras de arte e bens de uso profissional. Constitui um notável desestímulo à poupança e um peculiar caso de pluritributação, pois tributa mais uma vez um patrimônio já tributado pelos impostos patrimoniais, para não falar da tributação da renda que lhe deu origem. De resto, revelou-se um infeliz incentivo à expatriação de capitais e domicílios fiscais.

Não se alegue que a instituição do imposto sobre grandes fortunas seria uma forma de ampliar os recursos para despesas sociais, porque esses gastos não demandam financiamento por um tipo especial de tributo. Ao contrário, a regra geral é não haver vinculação entre imposto e despesa.

Tampouco se pode pretender, por aquela via, elevar os níveis de progressividade tributária – tese, a propósito, em gradual desuso no mundo, como evidenciam os contínuos avanços, na Europa Oriental, da onda simplificadora centrada no flat tax. A progressividade, malgrado seu caráter polêmico, é matéria já alcançável por alíquotas do imposto de renda e dos impostos patrimoniais.

No projeto de lei complementar, a incidência ocorreria a partir de patrimônios superiores a R$ 2 milhões. A recente e perigosa explosão nos preços dos imóveis urbanos converteria parte significativa da classe média das grandes cidades brasileiras em contribuintes do imposto, mesmo que não tenha havido correspondente aumento de sua renda líquida. De mais a mais, como ficariam aqueles que optaram por construir fundos financeiros para custear sua aposentadoria, sobretudo quando se considera a hipótese plausível de colapso da previdência?

As alíquotas variariam de 1 a 5%. Na hipótese da alíquota máxima, não considerada a incidência dos impostos patrimoniais, sua incidência, no prazo de 20 anos, corresponderia à completa estatização do patrimônio tributado. Nem a mais perversa mentalidade estatizante lograria conceber algo com maior requinte de perversidade.

Definitivamente, inexiste qualquer vínculo conceitual entre direitos humanos e o excêntrico imposto sobre grandes fortunas – uma curiosidade francesa. A extensa fronteira entre os direitos humanos e a tributação se desdobra nas limitações constitucionais ao poder de tributar, na prevenção de discriminações e privilégios fiscais infundados, na observância do princípio da capacidade contributiva e, de modo afirmativo, na efetivação dos direitos do contribuinte e equalização de suas relações com o fisco. Isto, contudo, é outra história.
...................
Everardo Maciel é ex-secretário da Receita Federal.

domingo, 4 de julho de 2010

165) Capitalismo: de Estado ou de Mercado?

Capitalismo de Estado e Capitalismo de Mercado: a grande disputa


Livro:

Ian Bremmer

The End of the Free Market: Who Wins the War Between States and Corporations?
Portfolio Hardcover, 2010, 240 p.
ISBN-10: 1591843014
ISBN-13: 978-1591843016

Formats:

Kindle Edition: $12.99
Hardcover: $17.79
Used from: $12.99

O mercado contra o Estado

Revista Época, 4.07.2010

Em seu novo livro, o cientista político americano Ian Bremmer analisa o crescimento do capitalismo de Estado no mundo – inclusive no Brasil. Para ele, o sistema de livre mercado ainda vai prevalecer. A seguir, um trecho do livro:

Em maio de 2009, recebi um convite por e-mail para discutir a crise financeira global com o vice-ministro de Relações Exteriores da China, He Yafei, junto com um pequeno grupo de economistas e acadêmicos. O vice-ministro iniciou o encontro, realizado no consulado chinês, na 12a Avenida, em Manhattan, com uma pergunta: “Agora que o livre mercado fracassou, que papel vocês acham que caberá ao Estado na economia?”.

Seu tom maliciosamente pragmático e a grandiosidade de sua afirmação quase me fizeram rir. Mas a pergunta era séria – e uma rápida olhada nas manchetes dos jornais revelava muitas evidências em seu favor. A quebra do banco de investimento Lehman Brothers, em setembro de 2008, demonstrou que a crise financeira havia atingido uma escala que não podia mais ser ignorada. As autoridades de Washington tinham assumido a responsabilidade por decisões que geralmente são tomadas pelos mercados, em Nova York. O então presidente George W. Bush assinou o Ato Emergencial de Estabilização Econômica, criando o Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (Trouble Asset Relief Program, Tarp, em inglês), de US$ 700 bilhões. No início de 2009, seu sucessor, Barack Obama, avisou que, se Washington não atuasse rapidamente, os Estados Unidos viveriam uma catástrofe. Os legisladores responderam ao chamado aprovando um plano de resgate de US$ 787 bilhões.

He Yafei aguardou pacientemente por uma resposta. “Os bancos fracassaram em se autorregular, mas isso não significa que o governo vai dominar permanentemente a economia”, respondi. Robert Hormats, do (banco de investimento) Goldman Sachs, Don Hanna, do Citigroup, o economista Nouriel Roubini e outros acrescentaram suas visões à conversa. Ao longo dos 90 minutos seguintes, meus colegas americanos e eu defendemos o capitalismo de livre mercado e o senhor He defendeu o capitalismo dirigido pelo Estado. Nós encontramos algumas ideias em comum. Mas, ao final do encontro, ficou claro que tínhamos discutido os méritos de dois conjuntos incompatíveis de princípios políticos e econômicos. 

Em encontros de consequências muito mais amplas, realizados agora em todo o mundo, essa incapacidade de concordar em relação ao papel adequado do Estado na economia mudará a forma de a gente viver. O exemplo mais óbvio é a mudança da mesa internacional de negociações dominada pelos chefes de Estado do G7, o grupo das nações mais industrializadas do mundo – todas elas campeãs do capitalismo de livre mercado – para o modelo do G20, no qual céticos do livre mercado, como China, Rússia, Arábia Saudita, Índia e outros países, participam da discussão. Agora, quando os líderes das democracias de livre mercado fazem o diagnóstico dos problemas da economia global, enfrentam o sorriso cético de He Yafei – e de todos aqueles na mesa que acreditam que o livre mercado fracassou e que o Estado deve ter um papel preponderante na economia. É um enorme problema, que vai trazer desafios por várias décadas. Como chegamos aqui? O fim da Guerra Fria não trouxe a vitória do capitalismo de livre mercado?

Apesar de ter cumprido as promessas de campanha, Lula não é nenhuma Margaret Thatcher

Em dezembro de 1991, um atônito Mikhail Gorbatchev anunciou a seu povo que eles estavam vivendo num mundo novo. Seis dias depois, a União Soviética acabou. Em três semanas, o líder chinês Deng Xiaoping lançou uma nova fase da reforma de livre mercado da China. Em um ano, até Fidel Castro tinha aceitado a necessidade de implementar algum grau de experimentação capitalista. Países do Pacto de Varsóvia começaram a marchar em direção à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e à União Europeia. O capitalismo de livre mercado parecia ter obtido uma vitória definitiva.

Mas, como os russos descobriram de forma dolorosa nos anos 90, há um longo caminho entre uma economia planificada e o capitalismo de livre mercado. A queda do comunismo não representou o triunfo do livre mercado, porque não colocou um ponto final em governos autoritários. O governo chinês aprendeu algumas lições importantes com o colapso da União Soviética e a revolta da Rússia contra o caos e a corrupção que se seguiram. Primeiro, reconheceu que, se o Partido Comunista Chinês fracassasse em gerar prosperidade para o povo, seus dias estavam contados. Segundo, aceitou que o Estado não pode criar crescimento econômico duradouro por decreto. Só com a liberação da inovação e das energias empreendedoras de sua vasta população a China poderia prosperar e o partido sobreviver. Terceiro, percebeu que, quando esse potencial de crescimento fosse liberado, o partido só poderia proteger seu monopólio de poder político se o Estado controlasse a maior parte possível da riqueza que os mercados viessem a gerar.

Assim como a China, governos autoritários em todo o mundo aprenderam a competir abraçando o capitalismo de livre mercado. Certos de que economias planificadas estavam destinadas ao fracasso, mas temerosos de que o verdadeiro livre mercado fugisse do controle, os autoritários inventaram o capitalismo de Estado. Neste sistema, os governos usam vários tipos de empresas controladas pelo Estado para administrar o que consideram como joias da coroa e para criar e manter um grande número de empregos. Eles elegem empresas privadas para dominar certos setores econômicos. Usam os fundos soberanos para investir o dinheiro extra e maximizar os lucros do Estado. Em todos os casos, o Estado está usando os mercados para criar riquezas que possam ser dirigidas para onde os políticos desejarem.

Esse novo modelo atraiu imitadores em boa parte dos países emergentes. No Brasil, quando a população elegeu Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, em 2002, muitos investidores estrangeiros temiam que ele seguisse o caminho do presidente venezuelano Hugo Chávez, dando uma guinada radical para a esquerda. Apesar das garantias de campanha de que Lula manteria a disciplinada política de livre mercado, alguns temiam que ele voltasse atrás. Isso não aconteceu. Sua reputação de esquerda o ajudou a construir um consenso em favor do capitalismo de livre mercado – dentro de certos limites. Hoje, com seu mandato no fim, ele continua muito popular no Brasil.

Lula, porém, não é nenhuma Margaret Thatcher. Ele acredita que seu governo tem uma responsabilidade com os pobres e com o fortalecimento (e não com a privatização) da maior parte das estatais remanescentes. Elegeu campeões nacionais de controle privado, especialmente em setores como mineração e telecomunicações. Empresas como a Petrobras e a Eletrobrás desempenham um papel mais importante, embora o governo trabalhe para atrair mais investimento privado.

Essas intervenções não chegam perto das que ocorrem na Rússia ou na China. Ainda assim, dois fatos importantes ameaçam levar o governo brasileiro a desempenhar um papel mais ativo na economia. O primeiro é a descoberta das reservas de petróleo do pré-sal, anunciada em novembro de 2007. O governo já propôs mudanças na lei de 1997, que permitiu às empresas estrangeiras desempenhar um importante papel na exploração e na produção de petróleo, e quer assegurar que a Petrobras não perderá seu papel de liderança no setor. O segundo fator potencial de mudança foi o impacto da crise financeira de 2008 no mercado interno. Com a desaceleração do comércio e a redução do crédito, o governo usou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal para injetar recursos no setor privado, aumentando a participação governamental em algumas das maiores empresas do Brasil.

Lula trabalhou para ajudar a criar campeões privados de capital nacional em alguns setores, com o objetivo de torná-los mais competitivos no mercado internacional. Mas, como essas empresas têm financiamentos de outras fontes, o Estado não pode controlá-las totalmente.

Em dezembro de 2008, o governo Lula anunciou planos de criar um fundo soberano. A ideia original era usá-lo para ajudar a financiar as empresas brasileiras no exterior e a desvalorizar o real, para estimular as exportações. O governo tomaria empréstimos em reais e compraria dólares para financiar as empresas brasileiras a comprar ativos no exterior. A retração econômica mudou os planos. Agora, o governo quer que o capital do fundo (pouco abaixo de US$ 7 bilhões) ajude a financiar investimentos do Estado no Brasil e garanta recursos às instituições financeiras estatais.

Em outubro de 2010, os eleitores brasileiros irão às urnas para eleger o sucessor de Lula e terão de tomar uma decisão difícil. O Brasil não é um país de capitalismo de Estado. Sua democracia permite o controle do poder do Estado, a opinião pública apoia o comércio e o investimento estrangeiro (inclusive no setor de energia) e seu fundo soberano é pequeno, se comparado aos da China e do Golfo Pérsico. Mas, ainda que os eleitores decidam o voto com base em outras questões, o próximo presidente terá uma influência considerável na forma como o país vai desenvolver uma das maiores reservas de petróleo do mundo, o grau de abertura da economia e o tipo de exemplo que dará a seus vizinhos.

A Grande Depressão dos anos 1930 não destruiu o capitalismo de livre mercado, mesmo que as alternativas do comunismo e do fascismo tenham capturado a imaginação mundo afora. O capitalismo de livre mercado destruiu o fascismo, ofuscou o colonialismo e teve uma longevidade maior que o comunismo. Também sobreviveu a diversas crises criadas por ele mesmo. Por que ele é tão resistente? Porque praticamente todas as pessoas valorizam a oportunidade de criar prosperidade para si mesmas e suas famílias, e porque o livre mercado provou diversas vezes que pode dar poderes praticamente a qualquer um. À medida que centenas de milhões de pessoas conhecerem como os outros vivem – do outro lado da rua e do outro lado do planeta –, elas se darão conta de que uns têm muito mais que os outros. Mas muitos também verão que a riqueza, como quer que a definam, não está mais fora de seu alcance. À medida que nações antes isoladas se unirem à economia global, criando novos mercados para os bens e serviços que produzem, elas verão que a prosperidade pode ser contagiosa. As três últimas décadas provaram que o acesso ao livre mercado – e não apenas a ajuda financeira – pode incluir imensos contingentes de pobres na economia global. Os mercados livres oferecem àqueles que deles participam vantagens de longo prazo que o capitalismo de Estado não pode atender.
===============
Debate no site da Amazon:

Nouriel Roubini and Ian Bremmer: Author One-to-One

In this Amazon exclusive, we brought together authors Nouriel Roubini and Ian Bremmer and asked them to interview each other.

Nouriel Roubini is a professor of economics at New York University's Stern School of Business. He has extensive senior policy experience in the federal government, having served from 1998 to 2000 in the White House and the U.S. Treasury. He is the founder and chairman of RGE Monitor (rgemonitor.com), an economic and financial consulting firm, regularly attends and presents his views at the World Economic Forum at Davos and other international forums, and is an adviser to cental bankers around the world. He is the author of Crisis Economics and Bailouts or Bail-Ins. Read on to see Nouriel Roubini's questions for Ian Bremmer, or turn the tables to see what Bremmer asked Roubini.

Nouriel Roubini Roubini: Your book [The End of the Free Market: Who Wins the War Between States and Corporations?] suggests that an old trend, what you call state capitalism, has become much more important. What happened to change things?

Bremmer: Over the past 18 months, the Western financial crisis and the global recession have accelerated the inevitable transition from a G7 to a G20 world. That’s not just a matter of more states at the bargaining table. It’s not just about having to herd more cats to get things done on the international stage. It’s about herding cats together with other animals that don’t really like cats. And that’s not really herding.

The G7 world was one where everyone that mattered for growth in the global economy accepted the assumption that prosperity depended on rule of law, independent courts, transparency and a free media—and in the value of free market capitalism. In that world, multinational corporations are the principle economic heavyweights. This consensus has provided the engine driving globalization for the past 40 years.

The sun has set on that world. The country that has emerged strongest and fastest from the global slowdown is one that does not accept the idea that a regulated free market economy is crucial for sustainable economic growth. China’s success has persuaded authoritarians around the world that they really can have explosive growth without undermining their monopoly hold on domestic political power. China has enjoyed double-digit growth for thirty years without freedom of speech, without well-established economic rules of the road, without judges that can ignore political pressure, without credible property rights—without democracy. And the events of the past 18 months have made China more important that ever for the future of global economic growth. This is a big change with enormous implications that we had better start thinking through.

Roubini: The term state capitalism means different things to different people. How do you explain it today?

Bremmer: I’m writing about a system in which the state uses the power of markets primarily for political gain. A country’s political leaders know that command economies will eventually fail, but they’re afraid that if they allow space for markets that are truly free, they’ll lose control of how wealth is generated. They could end up empowering others who will use markets to generate revenue that can then be used to challenge the government’s authority to dominate the country’s political life. So they use national oil companies, other state-owned enterprises, privately owned but politically loyal national champion companies, and sovereign wealth funds to exercise as much control as possible over the creation of wealth within the country’s borders. And they send these companies and investment fund abroad to secure deals that increase the state’s political and geopolitical leverage in a variety of ways.

This system is fundamentally incompatible with a free market system.

Roubini: Creating friction between the state capitalists and other governments. To say nothing of privately owned companies.

Bremmer: Exactly, yes. In a free market system, multinational corporations are looking to maximize profits. In markets that are not intelligently regulated, and we’ve seen this in the United States, they're looking to maximize short-term gains at the expense of sustainable, long-term growth for their shareholders or for their own compensation. The past two years have reminded us of the sometime excesses of free market capitalism.

In a state capitalist system-- the principle economic actors are looking first to achieve political goals. Profits are subordinate to that goal. In other words, if profits serve the state’s interests, they’ll pursue profits. But if the state needs a state-owned oil company to pay through the nose to lock up long-term supplies to the oil, gas, metals and minerals needed to secure the long-term growth that keeps workers in their jobs, off the streets, and the political leaders in power, profits and efficiency can become political liabilities and these companies will pay whatever it takes to get what their political patrons want.

But the state-owned companies are competing with multinationals that won’t overpay, that can’t overpay. Here, the injection of politics into market activity distorts the outcome—in this case by raising the price that we all pay for energy and other commodities.

Roubini: When you mention the state capitalist countries, which ones do you specifically have in mind?

Ian Bremmer Bremmer: We find state capitalist powers among the Arab monarchies of the Persian Gulf-- Saudi Arabia and the United Arab Emirates are the most important. You see this trend, of course, in Putin’s Russia. There are other examples of countries that mix free market with state capitalist policies. But we wouldn’t be talking about state capitalism as game-changer for international politics and the global economy if it weren’t for China, now the world’s second largest economy and its fastest growing major marketplace.

Roubini: The End of the Free Market is a provocative title. Are you trying to out-Doom me?

Bremmer: You know I wouldn’t do that. But you have to admit, it’s not an exaggeration. It’s not that I think the United States is going to throw away its free market principles. It's not about President Obama being some kind of socialist. Washington will tighten the regulation of financial markets in coming months, and some people won’t like that. Americans will not lose their faith in the power of free market capitalism to generate prosperity. But that can’t be said for the rest of the world.

The global economic system is no longer driven by consensus around these values. There are now competing forms of capitalism. You used the word friction. That’s exactly the right word. Friction, competition, even conflict. There will be winners and losers, and the world’s political and business leaders better begin to try to sort out who those winners and losers will be.

Roubini: Do you mean that state capitalists will be winners and those who bank on free markets will lose?

Bremmer: Not necessarily. We’re going to see governments around the world that no longer feel bound to follow the Western rulebook of decades past. We’ll see multinational corporations struggling to adapt, because foreign investment will become much less predictable and much more complicated. And the backing they get from their home governments won’t carry as much weight.

Yet, some of them will be more successful than others at learning to compete on a playing field that isn’t level. There are very good reasons to doubt that the state capitalists will have staying power. But for now, they have lots of new clout and plenty of advantages. Over the next five, ten, twenty years, state capitalist governments and the companies and institutions they empower will be a serious—and global--force to be reckoned with.

The threat for Americans is that all this is happening at a moment when people are struggling, and their elected leaders have every incentive to respond to that fear and anger with promises to throw up walls meant to protect them from all these changes. Americans have always prided themselves on tearing down walls, not building them. State capitalism and American populism will put that faith to the test.

Roubini: Were you tempted to call your book The End of Globalization?

Bremmer: No, this isn’t the end of globalization. It is the end of globalization’s singular, overriding power to shape our lives and the future of the global economy. Globalization depends on access to global consumer markets, capital markets, and labor markets. State capitalism compromises all three. Globalization still matters, and it will continue to matter for the foreseeable future. But it is no longer the fundamental driver of growth in a global economy that looks increasingly toward China for the next expansion.