domingo, 27 de junho de 2010

156) O Irã, o Brasil e a Turquia vistos sob um olhar português dirigido de Paris.

Abaixo, as palavras do embaixador português em França Francisco Seixas da Costa. O diplomata mantém o blog Duas ou Três Coisas ou e seu comentário foi publicado sob o título de O Irão, o Brasil e a Turquia. Quanto ao primeiro tópico de seu comentário, salvo engano, o Itamaraty veio trazer a público uma comunicação entre o nosso presidente e o dos EUA em que este estimulava aquele a empreender uma "solução negociada" para a questão iraniana. No entanto, vendo-se os discursos do presidente Lula, do ministro Celso Amorim, do assessor da Presidência da República para assuntos internacionais Marco Aurélio Garcia, e seus gritos de contestação ao "despotismo dos ricos" trazidos à tona com o despontar dos países em desenvolvimento, de afirmação dos interesses políticos internacionais brasileiros (ou petistas como muitos dizem e parecem ter boas razões para dizê-lo), de "não abaixar a cabeça", já fazia com que esperássemos semelhante atitude do governo brasileiro, com ou sem a anuência de Washington. A Casa Branca foi, desde o princípio, tratada com reserva e o Planalto quis se constituir como articulador de uma nova via alternativa ao que até então fora feito pelas "grandes potências". Sabe-se que muito há sob esse discurso, que ele está mais calcado sobre pretensões políticas do que em bases objetivas fortes. Não é de se espantar que os intuitos do governo brasileiro tenham malogrado no que diz respeito ao programa nuclear de Teerã, nem que a imagem do país tenha saído desgastada desta empresa. Todavia, vejamos os comentários do ilustrado Seixas da Costa.

Vinícius Portella

Porto Alegre,
27 0120 jun 2010.
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1. Alguma coisa está ainda mal explicada no modo como foi lançada a iniciativa que o Brasil e a Turquia tentaram, com vista a desenhar um acordo que permitisse travar as sanções ontem decididas pelo Conselho de Segurança contra o Irão. É difícil acreditar que, em particular no caso do Brasil, que tem a preservar a preciosa credibilidade que tem vindo a criar perante países de quem, em absoluto, depende a sua possível ascensão a membro permanente daquele Conselho, não tenha recebido sinais que hajam sido interpretados como uma "luz verde" para essa iniciativa.

2. De qualquer forma, o facto de, no seio do Conselho de Segurança, os cinco membros permanentes (China, EUA, França, Reino Unido e Rússia) terem obtido um acordo entre si numa questão desta importância para a segurança internacional é, manifestamente, uma muito boa notícia. O cruzamento e a frequente conflitualidade de interesses, económicos e geopolíticos, entre as principais potências raramente proporciona momentos de entendimento desta natureza. O que agora se passou, conjugado com o razoável resultado da recente Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, é um sinal de esperança para a paz e segurança globais. E é, simultaneamente, uma importante vitória para a política externa do presidente Obama, cujo paciente e construtivo diálogo com Moscovo e Pequim está na base deste resultado. 

3. Menos boa é a constatação, que ontem chegou de Washington mas que o bom senso há muito impunha, de que a evolução recente da posição da Turquia configura uma deslocação do seu padrão de interesses à escala global, que vem alterar uma realidade de décadas. Para os EUA, que, sem surpresas, também incluem neste prato da balança a mudança de atitude turca face a Israel, são as reticências que Ancara constata face às suas pretensões de entrada na União Europeia que estarão na base deste comportamento. Pode ser apenas uma parte da verdade, mas não há dúvida que esse posicionamento da Europa continua a ser um erro estratégico grave. Como Portugal, desde há vários anos, sempre assinalou.

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