terça-feira, 29 de junho de 2010

159) Cala a boca, Galvão!

Há alguns dias foi amplamente noticiada nos meios de comunicação a campanha "Cala a boca, Galvão!". Eu ignoro os detalhes quanto ao seu surgimento, sabendo vagamente de ela ter sido gestada em determinadas redes de relacionamento virtual. Tomei ciência disso pelo programa Central da Copa, exibido pela TV Globo. Há poucas horas, no programa CQC, da TV Bandeirantes, Galvão Bueno foi entrevistado em função de tal ocorrido. O apresentador disse ter levado a campanha como uma brincadeira e que o criador da "Cala a boca, Galvão!" escreveu, em um jornal, ser seu fã. Todavia, penso que essa manifestação não foi fruto de qualquer admiração; mesmo que se tome por verdadeiro que quem pensou nesse slogan agiu animado por tão nobre sentimento, a ampla adesão e veiculação da frase revela algo bem diverso: o real desejo de que Galvão Bueno cale a boca. 

Quanto a mim, subscrevo-a e se pudesse, cá gritaria a plenos pulmões: cala a boca, Galvão! Não o faço por não gostar do apresentador, nem este é um ataque, propriamente, a sua pessoa. Para mim, ele é a personificação do "a-criticismo"; alguém que não se preocupa em fazer um comentário inteligente, alguém que promove certas pessoas, esportistas na maior parte, a despeito e a revelia de qualquer justificação sólida. Um adulador. E penso que muita gente concordaria comigo, v.g., esta. Lamentamos, no entanto, que Galvão não seja uma ave em extinção...

Vinícius Portella

Porto Alegre,
29 0304 jun 2010.

domingo, 27 de junho de 2010

158) Enquanto, na Alemanha, o serviço militar é motivo de debate público...

Enquanto, na Alemanha, o serviço militar é motivo de debate público, aqui, no Brasil, ele não desperta nenhuma atenção e diz respeito unicamente a militares ou a estudiosos do assunto. Não só em questões militares, a burocracia estatal encampa certos assuntos, tornando-os acessíveis unicamente ao pessoal técnico. Encobre-os, dando margem a toda sorte de decisão ou manipulação (aqui não me refiro, propriamente, à prevaricação, mas a toda medida arbitrária, ensejada pelas brechas da lei, que pode redundar em ineficiência da máquina pública e ter grande autonomia em relação ao sistema de pesos e contrapesos que configuram o poder no jogo democrático). Todavia, a discussão não deve se dar divorciadamente de suas condicionantes técnicas. Esta matéria da Der Spiegel nos dá índices do abismo que separa nossas democracias.


Vinícius Portella

Porto Alegre,
27 2343 jun 2010.
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25/06/2010

Alemanha discute a eliminação do serviço militar obrigatório para os jovens

Der 
Spiegel
Michael Fröhlingsdorf, Sven Röbel e Christoph Scheuermann
  • Recrutas alemães participam de exercício 
militar de tiro durante treinamento em Berlim, na Alemanha
Recrutas alemães participam de exercício militar de tiro durante treinamento em Berlim, na Alemanha
Todos os anos, dezenas de milhares de jovens alemães do sexo masculino são convocados para o serviço militar obrigatório. Mas eles são simplesmente um peso para a Bundeswehr, que não tem necessidade de recrutas semi-treinados. Os recrutas passam grande parte do serviço militar encontrando maneiras de derrotar o seu maior inimigo: o tédio.
David (não é o nome real do rapaz) estava louco para prestar o serviço militar nas forças armadas alemãs, a Bundeswehr. Ele chegou até a pensar em se alistar como soldado regular profissional após completar o serviço militar obrigatório.

Leia mais sobre a polêmica na Alemanha:

Entretanto, em um dia de março David foi obrigado a concluir que as forças armadas não compartilhavam do seu entusiasmo. Ele estava de pé com outros recrutas recém-convocados no pátio do quartel de um batalhão de logística na Baviera. Os 36 jovens, a maioria de 18 anos de idade, formavam um grupo razoavelmente motivado. Mas os instrutores pareceram desencorajados ao verem David e os outros recrutas de pé no pátio. “Olhem só, temos novamente uma quantidade enorme deles”, disse baixinho um dos oficiais superiores. O que eles iriam fazer com esses jovens?
A questão de determinar o que deve ser feito com eles é atualmente o tópico de um debate acalorado em Berlim. Se o ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, conseguir o que deseja, o serviço militar obrigatório será em breve eliminado. Embora até recentemente fosse um defensor aguerrido do serviço militar obrigatório, Guttenberg, que pertence ao conservador partido União Social-Cristã na Baviera (CSU, Christlich-Soziale Union in Bayern), o partido vinculado à União Democrata-Cristã (CDU, Christlich-Demokratische Union), partido da chanceler Angela Merkel, mudou de posição. Agora, Guttenberg, que tem a patente de cabo da reserva, disse a “Der Spiegel” em uma entrevista que “na prática, o serviço militar obrigatório acabará dentro de dez anos”.
Com essa declaração, Guttenberg chocou-se de frente com membros do seu próprio partido, especialmente Volker Kauder, o líder do grupo parlamentar conservador. Kauder afirma que o serviço militar obrigatório é uma preocupação central do seu partido, a CDU, e que ele é um “instrumento de ligação entre a sociedade e a Bundeswehr”. O líder da CSU, Horst Seehofer, que define a sua agremiação como “um partido da Bundeswehr”, afirma: “Nós dizemos sim ao serviço militar obrigatório”. A chanceler Angela Merkel, que considera o serviço militar obrigatório uma “história de sucesso”, conteve o ministro da Defesa, porque ela acredita que uma grande parcela dos seu eleitorado apoia o serviço militar.

Ultrapassado

O que está se vendo novamente são antigos e familiares rituais alemães. O serviço militar obrigatório sempre foi um dos grandes tabus da política alemã. Até a década de oitenta, centenas de milhares de homens ainda eram necessários para a eventualidade de um grande exército ter que ser rapidamente mobilizado para enfrentar as forças do Pacto de Varsóvia. Mas, com a implosão do Bloco Oriental, e com o fim da Guerra fria, o serviço militar obrigatório tornou-se ultrapassado.
Para a Alemanha, um país cercado de vizinhos amigos, a defesa nacional não é mais uma grande preocupação nacional. Os soldados da Bundeswehr estão atualmente lutando no Afeganistão ou supervisionando um embargo de armas ao largo da costa do Líbano como parte da força Unifil da Organização das Nações Unidas (ONU). Os jovens recrutas do exército não tem mais utilidade para ninguém. Mal treinados e negligenciados pelo governo, eles passam a maior parte do serviço militar esperando o tempo passar.
Mas agora existe a esperança de que a situação mude, já que o governo precisa apertar o cinto. Sem verbas para sustentá-lo, o serviço militar obrigatório provavelmente deixará de existir em breve. Autoridades do Ministério da Defesa calcularam que os gastos do governo com a Bundeswehr seriam reduzidos em quase 500 milhões de euros (US$ 610 milhões, R$ 1,2 bilhão) por ano caso o serviço militar obrigatório fosse abolido.
Atualmente, o serviço militar obrigatório dura nove meses, que consistem de três meses de treinamento básico e seis meses passados em um quartel em algum lugar na Alemanha. Seis meses em um quartel não dão a impressão de serem necessariamente um período muito grande, mas o tempo pode parecer mais longo para pessoas que não sabem o que se espera delas. Na verdade, ninguém sabe o que deveria fazer. David, o entusiasmado jovem recruta, não sabe, os seus colegas do batalhão de logística também não, e praticamente nenhum dos 60 mil jovens alemães que prestam o serviço militar sabe que se espera deles. E nem mesmo a Bundeswehr tem ideia do que deveriam fazer esses recrutas.

Passando os dias no ócio

É por isso que muitos recrutas, após completarem o treinamento básico, aprendem como passar o tempo quando não há nada para fazer. Eles aprendem a passar horas, dias, semanas e meses no ócio, a matar o tempo percorrendo trajetos curtos e sentando-se em cadeiras de escritórios, e também a como sonhar acordado quando estão na respectiva unidade, escritório, corredor, sala e pátio de quartel. Essencialmente, eles aprendem a arte de cultivar o ócio. No decorrer desse processo, eles se tornam preguiçosos, tolos ou criativos, e às vezes as três coisas. Eles engajam-se em atividades como corridas com sacos de dormir, que gravam com as câmeras dos seus telefones celulares. A Internet está repleta de vídeos desse tipo.
Ao ser avaliado sob um ângulo positivo, o serviço militar obrigatório se constitui em uma festa gigantesca de nove meses de duração para um bando de jovens do sexo masculino (na Alemanha as mulheres estão isentas do serviço obrigatório). Mas qual é o objetivo disso tudo? Qual foi o objetivo do governo ao convocar 63.413 homens para o serviço militar no ano passado? Por que o Estado interfere nas vidas de tantos jovens, ainda que não seja capaz de explicar a eles o que exatamente deveriam fazer ao chegarem nos seus quartéis?
Muitos recrutas acreditam que o governo sabe muito bem por que está convocando-os e privando-os da sua liberdade durante nove meses. Mas a verdade é mais prosaica do que isso: o governo não sabe por que está fazendo isso. Se soubesse, ele trataria os jovens de maneira diferente. Cinco décadas após ter sido criado, o serviço militar obrigatório transformou-se em uma máquina enorme que é alimentada com homens jovens e que produz nos quartéis um desemprego em massa organizado pelo governo.
Os soldados inventaram um termo para definir esse tipo de atividade cujo único objetivo é fazem com que eles pareçam estar ocupados. Eles chamam isso de Dummfick (que pode ser traduzido mais ou menos como “um estúpido perdendo tempo”).

Leia mais notícias de jornais internacionais:

Limpando armas limpas

Pouco após ter se apresentado para o serviço no seu batalhão de logística, David recebeu a ordem de limpar algumas armas. Só havia um problema: as armas já estavam limpas. Na verdade, elas nunca tinham sido usadas. Alguns diriam que o objetivo era permitir que ele praticasse, mas David já havia aprendido a limpar armas durante o seu treinamento básico. Não obstante, ele sentou-se em uma cadeira defronte à sala de armas, tendo uma metralhadora MG 3 limpa à sua frente, e desmontou, poliu e tornou a montar a arma. Desmontar, limpar e tornar a montar, hora a hora, dia a dia – é assim que os recrutas passam o tempo.
David diz que, para piorar a situação, o quartel estava totalmente lotado, com quatro camas de campanha em cada quarto. Alguns dos seus colegas soldados tiveram que guardar os seus equipamentos e pertences no sótão porque não havia espaço para armários extras no quarto.
Após concluir o segundo grau, David, que veio de uma pequena cidade no Estado de Hesse, no oeste da Alemanha, sentiu-se tentado pela possibilidade de obter educação de nível universitário na Bundeswehr e de seguir uma carreira como oficial da força aérea. Mas a sua euforia durou pouco. Duas semanas depois, ele foi transferido da sala de armas para o departamento de contabilidade do quartel, onde há simplesmente pouquíssima coisa a se fazer.
Pelo menos ele não teve o destino de um recruta que servia em um batalhão de transportes no oeste da Alemanha, que foi incumbido de tomar conta de um telefone e de atender às ligações oficiais recebidas no aparelho. A tarefa era extremamente monótona, porque o telefone nunca tocava – durante semanas a fio. Foi só quando um supervisor ordenou que posição dos móveis do escritório fosse modificada que o recruta percebeu a tomada de telefone atrás de um armário. Ele constatou então que o telefone não estava sequer conectado.

“Serviço do tipo ficar por aí”

Mas em vez de utilizar tais relatos como um argumento para a abolição do serviço militar obrigatório, o Bundestag, o parlamento alemão, aprovou na semana passada apenas o encurtamento do período de serviço, de nove para seis meses, a partir de 1º de julho. A frente CDU/CSU, juntamente com o seu parceiro menor de coalizão, o Partido Democrático Liberal (FDP, Freie Demokratische Partei), concordou com o período de serviço militar obrigatório de seis meses durante as negociações entre os membros da coalizão. Isso foi um acordo entre o liberal FDP, que deseja eliminar completamente o serviço militar obrigatório, e os conservadores, que rejeitam a ideia. No entanto, o acordo só intensificou o dilema, já que é possível que os recrutas sejam utilizados com ainda menos eficiência durante este período de serviço mais curto.
“Os benefícios militares e pessoais do serviço militar básico precisam ser pelo menos iguais”, afirma Hellmut Königshaus, o comissário parlamentar para a Bundeswehr. Caso contrário, argumenta Königshaus, o recrutamento entraria em conflito com a constituição da Alemanha. Königshaus recebe ocasionalmente cartas de soldados que se sentem desestimulados e reclamam das tarefas sem sentido que têm que fazer. No entanto, observa Königshaus, “pode-se deduzir que os serviços do tipo 'ficar por aí' entre os recrutas estejam mais disseminados do que refletem as reclamações”.
Onze anos atrás, o então ministro da Defesa, Rudolf Scharping, encarregou uma comissão de encontrar maneiras de tornar a Bundeswehr mais moderna, mais eficiente e mais satisfatória no que se refere à relação custo-benefício. A comissão, liderada pelo ex-presidente alemão Richard von Weizsäcker, discutiu a possibilidade de acabar com o serviço militar obrigatório, mas Scharping se opôs à ideia, e hoje em dia ele ainda defende o serviço compulsório. Em abril último, o ministro da Defesa Guttenberg também criou uma comissão para estudar reformas. Os resultados deverão ser anunciados em setembro.

Jogando pôquer

Até lá, os novos recrutas continuarão chegando, e eles estarão mais interessados em matar tempo do que em fazer qualquer outra coisa. Quando David foi transferido para o escritório administrativo, três outros soldados já se encontravam lá, ocupados em gerenciar o grande vazio em que foram jogados. Como após a chegada de David só havia três cadeiras para os quatro soldados, um deles estava sempre de folga no seu quarto ou recostado em um balcão no corredor. David diz que o fato menos entediante do dia era fazer o trajeto diário entre o seu escritório e a agência dos correios do quartel, que ficava a 300 metros de distância. Ele também passava o tempo tentando superar o seu recorde no jogo de cartas Paciência no computador do escritório, ou jogando pôquer online ou dados com os colegas. David conta que em certos dias ia direto para a cama no final da tarde.
Muitos potenciais soldados têm uma boa chance de não serem convocados. Dos 417.300 candidatos potenciais ao serviço que passaram por um exame médico no ano passado, quase 43% foram rejeitados por serem considerados “inaptos para o serviço militar” - um exército de inválidos composto de 178.325 homens, ou o equivalente a cerca de doze divisões de exército. E esse número acaba sendo também politicamente conveniente.
O número de homens considerados inaptos para o serviço militar vem crescendo há anos. “Os números apontam para um declínio significativo da forma e da capacidade física geral”, escreveu o ex-comissário parlamentar para as forças armadas, Reinhold Robbe, no seu relatório anual de 2007. Ele responsabilizou o estresse emocional, o aumento do uso de drogas ilegais ou prescritas por médicos, bem como a televisão e os computadores por esse déficit. Robbe pintou um quadro sombrio, segundo o qual quase a metade daqueles que poderiam servir as forças armadas consiste de um bando de jovens desajustados que passavam o tempo fumando maconha em frente aos seus PlayStations enquanto se empaturravam de pizza.

Elevando o padrão

Mas a Bundeswehr também não tem interesse em um grande número de novos recrutas. Eles custam dinheiro e usam espaço e tempo pessoal valiosos. Como o objetivo é transformar a Bundeswehr em um exército de soldados treinados para missões individuais e campanhas de intervenção, os soldados que não podem ser enviados para o exterior constituem-se simplesmente em um peso morto. Para pelo menos manter a aparência de justiça no processo de seleção para o serviço militar, os padrões de aptidão estão sendo constantemente elevados, reduzindo desta forma o número de candidatos aptos.
No processo de seleção de 2009, por exemplo, aqueles que eram inaptos para o serviço foram eliminados primeiro, seguidos pelos que rejeitaram o serviço por questão de consciência, por policiais e por bombeiros. Como resultado, apenas 96.185 cartas de convocação foram enviadas, e dezenas de milhares destas foram anuladas por outros motivos. Graças à superação do limite de idade, das anulações das cartas de convocação e dos atrasos, ou simplesmente às “razões de ordem organizacional”, somente 68.304 jovens receberam a ordem para se apresentarem. Destes, 4.891 deixaram as suas unidades nas primeiras quatro semanas. No fim das contas, sobraram 63.413 recrutas que deveriam passar pelas etapas necessárias para servir o seu país.
Para implementar as exigências políticas, os exames médicos para o serviço militar são repletos de absurdos criados para proporcionar às juntas de alistamento militar a maior gama de recursos possível no seu esforço para identificar os candidatos inaptos. Segundo uma dessas regras, os recrutas que forem alérgicos a aipo são considerados inaptos para o serviço militar. Na Bundeswehr, o aipo é usado em sopas de carne e legumes, entre outras coisas.

Critérios arbitrários

Aqueles que são alérgicos a picadas de abelhas e vespas também são considerados inaptos para o serviço militar. E os jovens que são incapazes de tolerar drogas profiláticas contra a malária e a febre amarela também são mandados para casa – mesmo que nenhuma dessas doenças tenha sido identificada na Alemanha na história recente do país, e apesar de os recrutas alemães jamais terem sido enviados para servir em selvas tropicais.
Por mais estranho que pareça, os jovens que se registram como objetores de consciência, antes ou durante os exames médicos, têm menos chance de serem dispensados do serviço. Eles têm que realizar um “serviço civil” alternativo, conhecido como Zivildienst, que consiste tipicamente de fazer trabalhos sociais em locais como hospitais ou residências para aposentados. Ao contrário da Bundeswehr, o Departamento Federal de Serviço Civil conta com vários clientes que gostam de empregar mão de obra barata, como por exemplo os serviços de enfermagem particulares.
Por outro lado, os procedimentos empregados nas juntas distritais de alistamento são frequentemente arbitrários. Todos sabem que as autoridades de recrutamento já mandaram para casa recrutas que tinham cáries, mas decretaram que recrutas curados de fraturas sérias, nas quais houve fragmentação óssea, estavam aptos para servir.
Com essas práticas, a Bundeswehr conseguiu também alienar os recrutas entusiasmados. Sven, um jovem de 21 anos, da cidade de Hanôver, no norte da Alemanha, foi incumbido de trabalhar como médico após o treinamento básico. No início ele pensou: “Vou aprender algumas técnicas médicas que poderei utilizar mais tarde”. Mas, em vez disso, Sven aprendeu apenas a usar um monitor de pressão arterial. Assim que aprendeu a tarefa, disseram a ele para ir de leito em leito, pouco após os seus camaradas acordarem de manhã, e perguntar a cada um se os seus intestinos estavam funcionando bem.

Lágrimas de tédio

Se alguém digitar as palavras “Bundeswehr” e “Langeweile” (“tédio”) na plataforma de vídeo YouTube, o tamanho do grande vazio ficará ainda mais claro. Os vídeos que surgem mostram recrutas alemães travando batalhas com o seu maior inimigo: o tédio.
Em um dos vídeos, um soldado usando um uniforme camuflado e uma máscara de gás dança ao som de uma música techno, usando uma vassoura como companheira de dança. Em um outro filme, os soldados jogam “derrubar da cama”, que consiste em jogar os companheiros no chão, virando os seus colchões. E há o “Bundeswehr Twist”, no qual recrutas usando uniformes camuflados, capacetes de aço e máscaras contra gás dançam o dia todo. E há ainda o filme no qual os jovens sentados em uma sala usam fita adesiva para depilarem as coxas uns dos outros.
Em um outro vídeo, os soldados amarram capacetes de metal aos seus cotovelos e joelhos e saltam de quatro pelo assoalho de linóleo, realizando uma “corrida de tartarugas”. Em um outro, os homens enfiam-se em sacos de dormir militares, como se fossem lagartas gordas, e a seguir rolam pelo piso do quartel – sob os aplausos dos camaradas.
Um vídeo de três minutos de duração mostra um soldado sentado em uma cadeira. Ele está tão cansado que mal pode manter os olhos abertos. O rapaz é uma figura cômica de aparência triste, mas ele é também uma alegoria maravilhosa do absurdo completo que é o serviço militar obrigatório. Naturalmente, há também vários vídeos de soldados bebendo e vomitando.
Após quatro semanas sem fazer nada no escritório administrativo do seu batalhão de logística na Baviera, David percebeu que estava perdendo o seu tempo. Ele foi até o escritório do supervisor, onde preencheu um formulário retroativo de objetor de consciência. Atualmente ele realiza serviços comunitários em uma agência de enfermagem.
Tradução: UOL

157) PT e Capitalismo de Estado, por Sérgio Gobetti.

Cresce entre alguns analistas e economistas (simpáticos ao governo, inclusive) a impressão de que as operações de capitalização do BNDES pelo Tesouro Nacional (R$ 100 bi), a expansão dos bancos públicos e a esperada mega capitalização da Petrobrás não seriam medidas ocasionais, decorrentes ou da crise internacional ou de necessidades conjunturais (como o pré-sal), mas fariam parte de uma estratégia - semelhante de alguns países asiáticos - de construir no Brasil uma espécie de Capitalismo de Estado. Ou seja, uma economia capitalista, de mercado, mas com fortíssima presença do governo e não apenas naquilo que os liberais consideram essencial ou na regulação defendida pelos neokeynesianos.
Nessa economia, as estatais assumem um peso determinante, ao lado de grandes conglomerados privados. Na verdade, estatais e grandes conglomerados atuam lado a lado, de forma associativa e não concorrencial, pelo menos não no sentido que costumamos interpretar a concorrência - o de disputa e, em alguns casos, de eliminação do mercado.
É isto que sinalizaria, por exemplo, a intervenção do governo (via BNDES) para concentrar o negócio de carnes nas mãos do JBS e da Perdigão-Sadia, o negócio da telefonia nas mãos da Oi, o da celulose na Votorantim-Aracruz e o da petroquímica na Odebrecht-Braskem.
Se essa estratégia de alavancagem do crescimento vai dar certo ou não no Brasil não sei (para se igualar aos asiáticos faltaria uma mudança na política cambial e uma intervenção muito mais forte no sistema educacional), mas ela é bastante polêmica, tanto para a direita quanto para a esquerda. A direita pelos motivos óbvios. A esquerda porque trata-se de dinheiro público para e associação com conglomerados capitalistas. Como diferencial em relação aos asiáticos, entretanto, o governo do PT contrabalançaria essa aliança com a manutenção dos programas sociais e da estrutura de welfare state.
PS: este autor não está se posicionando, por ora, sobre a questão (que envolve não só um debate econômico, mas também ideológico), mas achou interessante apresentar a tese neste blog para que as pessoas reflitam sobre ela.
[Sérgio Gobetti]

156) O Irã, o Brasil e a Turquia vistos sob um olhar português dirigido de Paris.

Abaixo, as palavras do embaixador português em França Francisco Seixas da Costa. O diplomata mantém o blog Duas ou Três Coisas ou e seu comentário foi publicado sob o título de O Irão, o Brasil e a Turquia. Quanto ao primeiro tópico de seu comentário, salvo engano, o Itamaraty veio trazer a público uma comunicação entre o nosso presidente e o dos EUA em que este estimulava aquele a empreender uma "solução negociada" para a questão iraniana. No entanto, vendo-se os discursos do presidente Lula, do ministro Celso Amorim, do assessor da Presidência da República para assuntos internacionais Marco Aurélio Garcia, e seus gritos de contestação ao "despotismo dos ricos" trazidos à tona com o despontar dos países em desenvolvimento, de afirmação dos interesses políticos internacionais brasileiros (ou petistas como muitos dizem e parecem ter boas razões para dizê-lo), de "não abaixar a cabeça", já fazia com que esperássemos semelhante atitude do governo brasileiro, com ou sem a anuência de Washington. A Casa Branca foi, desde o princípio, tratada com reserva e o Planalto quis se constituir como articulador de uma nova via alternativa ao que até então fora feito pelas "grandes potências". Sabe-se que muito há sob esse discurso, que ele está mais calcado sobre pretensões políticas do que em bases objetivas fortes. Não é de se espantar que os intuitos do governo brasileiro tenham malogrado no que diz respeito ao programa nuclear de Teerã, nem que a imagem do país tenha saído desgastada desta empresa. Todavia, vejamos os comentários do ilustrado Seixas da Costa.

Vinícius Portella

Porto Alegre,
27 0120 jun 2010.
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1. Alguma coisa está ainda mal explicada no modo como foi lançada a iniciativa que o Brasil e a Turquia tentaram, com vista a desenhar um acordo que permitisse travar as sanções ontem decididas pelo Conselho de Segurança contra o Irão. É difícil acreditar que, em particular no caso do Brasil, que tem a preservar a preciosa credibilidade que tem vindo a criar perante países de quem, em absoluto, depende a sua possível ascensão a membro permanente daquele Conselho, não tenha recebido sinais que hajam sido interpretados como uma "luz verde" para essa iniciativa.

2. De qualquer forma, o facto de, no seio do Conselho de Segurança, os cinco membros permanentes (China, EUA, França, Reino Unido e Rússia) terem obtido um acordo entre si numa questão desta importância para a segurança internacional é, manifestamente, uma muito boa notícia. O cruzamento e a frequente conflitualidade de interesses, económicos e geopolíticos, entre as principais potências raramente proporciona momentos de entendimento desta natureza. O que agora se passou, conjugado com o razoável resultado da recente Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, é um sinal de esperança para a paz e segurança globais. E é, simultaneamente, uma importante vitória para a política externa do presidente Obama, cujo paciente e construtivo diálogo com Moscovo e Pequim está na base deste resultado. 

3. Menos boa é a constatação, que ontem chegou de Washington mas que o bom senso há muito impunha, de que a evolução recente da posição da Turquia configura uma deslocação do seu padrão de interesses à escala global, que vem alterar uma realidade de décadas. Para os EUA, que, sem surpresas, também incluem neste prato da balança a mudança de atitude turca face a Israel, são as reticências que Ancara constata face às suas pretensões de entrada na União Europeia que estarão na base deste comportamento. Pode ser apenas uma parte da verdade, mas não há dúvida que esse posicionamento da Europa continua a ser um erro estratégico grave. Como Portugal, desde há vários anos, sempre assinalou.

sábado, 26 de junho de 2010

domingo, 20 de junho de 2010

154) Qual o futuro dos jornais impressos? Por Marcos Troyjo.


Por Marcos Troyjo em 21/4/2009
Reproduzido da Gazeta Mercantil, 15/4/2009

Crise. Eis a palavra de ordem para jornais no mundo inteiro. Penúria, dificuldade. Momento, como sugeria Antonio Gramsci, em que o velho ainda não morreu e o novo tampouco nasceu.

Mas crise é também julgamento, exame, avaliação. E, nesse repensar, as perguntas: o que acontecerá com o jornalismo impresso? Qual o futuro da mídia? Vale começar, contudo, com o que está acontecendo agora; com o presente da mídia.

Esta conjuntura de 2009, em meio ao turbilhão que varre a economia global, é de um mundo em que:

** a maior empresa de mídia, o Google, não produz um único grama de conteúdo sequer;

** jornais comem poeira da TV, rádios, instant messengers e noticiosos on-line nos chamados "furos", cada vez mais raros – e, vale dizer, dispensáveis – na mídia impressa;

** na Wikipedia, a enciclopédia colaborativa on-line, há 12 vezes mais verbetes do que na Enciclopédia Britânica, com diferencial de erros desprezível;

** o New York Times, maior marca de mídia impressa do planeta, perdeu 50% de sua circulação paga nos últimos cinco anos;

** o Clarín, jornal argentino, o maior da América Latina, não tem um assinante sequer;

** a redação do maior jornal de economia em espanhol, o Expansión, funciona numa laje de 120 metros quadrados em Madri;

** no Brasil, onde a densidade digital da sociedade ainda é relativamente baixa, a venda de celulares ultrapassa a de computadores, que por seu turno supera a de televisores;

** 1 em cada 4 indivíduos encontra-se plugado na internet;

** centros dinâmicos de empreendedorismo e conhecimento, como Boston, Seattle e São Francisco, estão perdendo seus tradicionais Globe, Post-Intelligencer e Chronicle. O Boston Globe, a propósito, comprado pelo Grupo NYT há 16 anos por US$ 1 bilhão, está à venda nesta semana por US$ 12 milhões.

A convergência tecnológica

A julgar por esse quadro, parece anacrônica a questão se os jornais um dia irão acabar. Com base no fracasso de modelos de negócios tradicionais, eles já acabaram.

Como explicar, então, o inegável fato de que as pessoas estão cada vez mais bem informadas, que nunca se consumiram doses tão abundantes de notícias, análises, opiniões, que nunca o jornalismo repercutiu tanto?

Além de apontar o óbvio paradoxo de que a disponibilidade da informação vem (fatalmente, para a imprensa) acompanhada de gratuidade, há que sublinhar: não é apenas a mídia (meios) que mudou, mas também a origem e os destinos da informação.

A origem, há um tempo restrita à redação de cada jornal, hoje está no universo de sites, agências de notícias, blogs, vlogs, universidades, nas empresas de qualquer ramo. Circula, enfim, no ciberespaço. O destino, na mesma medida, que segmentava, por mídia, o tipo de consumidor em suas várias formas (leitor, ouvinte, telespectador, internauta etc.) condensa-se progressivamente graças à convergência tecnológica.

Média de ler jornal é 22 minutos

Daí surgir mesmo um novo profissional de mídia. Muito preparo e talento na comunicação via texto, som, vídeo. Distinto do profissional passivo, pautado, monomídia, apenas "jornalista".

Ele hoje tem de ser um publisher capaz de operar em várias plataformas e atento aos vários aspectos do "negócio", além do conteúdo. E, é claro, uma fixação com o aprimoramento constante que beira o "apenas os paranóicos sobrevivem", conforme o ensinamento de Andrew Grove, o fundador da Intel. Se ele for este profissional, então neste novo mundo ele é um sujeito de grande importância e alcance sempre.

O jornal escrevia para o leitor. A marca de mídia terá, contudo, de estar com o consumidor em toda dimensão de sua cidadania informacional.

Nos países da OCDE, por exemplo, onde são altos os índices de leitura e de alfabetização digital, o tempo médio diário de um leitor com o jornal na mão é de apenas 22 minutos. Fica, no entanto, com seu computador ligado durante 8 horas por dia; seu celular por 16 horas.

Rever o quotidiano

No Brasil, a situação não é muito diferente. No futuro breve, jornais diários de grande circulação serão quase sinais de subdesenvolvimento ou atraso digital de um país. Não é de estranhar que nos EUA, em 2008, mais pessoas obtiveram suas notícias gratuitamente na internet do que em jornais ou revistas pelas quais tenham pago algum dinheiro. Será que nesse mundo faz algum sentido o lema all the news that´s fit to print, do New York Times?

Talvez aí esteja a chave para o futuro dos jornais. Deixarão de ser newspapers em mais de um sentido, já que são derrotados ingloriamente na corrida tecnológica da notícia e nos custos (econômicos e ambientais) do papel.

De modo crescente – e irreversível –, as notícias (news) vão para o digital, para o tempo real gratuito e, onde houver aprofundamento e exclusividade, para um modelo pago e, portanto, economicamente sustentável.

E o papel? Os jornais se tornarão journals. "Diários", a bem dizer, não como algo impresso a cada dia, mas na dimensão quase afetiva do objeto físico onde se depositam (Querido Diário, hoje eu...) impressões, análises e opiniões sobre aquilo que se vive e viveu. A Economist, revista mais influente do mundo, gosta de se definir como journal.

No limite, a missão – e a chance – dos jornais impressos será rever o quotidiano com os olhos da razão. É isso. Rever. Jornais impressos serão revistas.

153) Da Esquizofrenia Vermelha, por Roberto Campos.

“É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte; ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola...”

Roberto Campos 

152) Triste Peleja, por Xico Graziano. (ou A Encrenca sobre o Código Florestal e o Besteirol Rurambiental)

Triste Peleja
Xico Graziano - AgroBrasil
O Estado de S. Paulo, terça-feira, 15 de Junho de 2010

Nada positiva essa encrenca sobre o Código Florestal. A opinião pública anda confusa, até assustada. Argumentos esdrúxulos partem de ambos os lados, tanto dos ambientalistas quanto dos ruralistas. Virou um besteirol rurambiental.

Embora contenha defeitos, não é verdade que o relatório Aldo Rebelo escancare as portas da destruição florestal. Tampouco é aceitável acusar, como fez o deputado, as ONGs ambientalistas de servirem ao capital internacional. Agricultor não é sem-vergonha nem ecologista serve à maldade. A radicalização só atrapalha a superação desse sério impasse sobre a legislação florestal do País.

Bandidos contra mocinhos funciona bem no cinema, não na roça. Nessa matéria, que importa ao futuro da sociedade, não pode haver vencedores nem vencidos. Será imperdoável votar uma proposta de modificação do Código Florestal que derrote o ambientalismo, por mais estranhas que sejam certas posições dentro dele. Por outro lado, se o ruralismo perder para a ingenuidade verde, melhor seria decretar o fim da agricultura. Ninguém sabe, assim procedendo, como viveriam os seres humanos.

O dilema entre produzir e preservar não comporta pensamento obscurantista nem simplista. Ao contrário, somente a luz do conhecimento poderá encontrar saídas que levem ao novo, e imprescindível, modelo civilizatório. O mundo alimenta, hoje, 6,5 bilhões de habitantes, seguindo há séculos, no campo e nas cidades, uma trajetória de confronto com a natureza. Até 2050 a população talvez se estabilize em 9 bilhões de pessoas. Vai piorar a pegada ecológica.

Querer praticar a agricultura predatória dos antepassados será burrice incomensurável. Por outro lado, defender a regressão agrícola soa insano. Conclusão: somente a tecnologia agropecuária resolve esse impasse, fundamentando uma proposta conciliadora entre a produção e a preservação. Uma saída negociada que unifique as posições em disputa. Nem tanto a Deus nem tanto ao diabo. O caminho do meio.

A agricultura sustentável deve fazer parte da solução, não do problema ambiental. Um roteiro de consenso para a reformulação do Código Florestal deve começar por expor seus porquês. Vamos lá. Quatro fortes razões justificam alterar a lei elaborada em 1965:

1) Existe dificuldade em conceituar a reserva florestal legal nas propriedades abertas antes da vigência da lei. Áreas de agricultura consolidada exigem tratamento distinto de locais ainda cobertos com vegetação nativa.

2) Certas áreas chamadas de preservação permanente, como várzeas, encostas e topos de morro, servem há décadas à agricultura de arroz, uva, café, entre outras, exigindo sua legalização produtiva.

3) Agricultores que, na Amazônia Legal, abriram terras antes de 1995, quando a reserva obrigatória era de 50% da área da fazenda, não podem ser criminalizados pela posterior elevação dessa proteção ambiental para 80%. Raciocínio semelhante vale para o cerrado.

4) A legislação precisa auxiliar o agricultor a resgatar seu passivo ambiental, favorecendo a recuperação especialmente das matas ciliares, aquelas que protegem rios e nascentes. Corredores ecológicos mais valem que pedaços de reserva isolados no território.

Existem várias possibilidades para avançar nesses quatro pontos básicos, adequando o Código Florestal à realidade presente, sem punir os agricultores de bem. Sendo assim, é aceitável:

1) Permitir a utilização de sistemas agroflorestais que misturem culturas com espécies arbóreas, inclusive exóticas, para facilitar a recuperação de áreas degradadas.

2) Realizar a compensação de passivo ambiental noutro local, fora da propriedade, mesmo ultrapassando o território do Estado quando houver identidade de bioma, na mesma bacia hidrográfica.

3) Incluir a área de preservação permanente (APP) no cômputo da reserva legal (RL), desde que o agricultor firme compromisso de recuperação ambiental com prazo máximo de dez anos.

4) Oferecer aos Estados maior capacidade de normatização e execução prática da lei florestal, estimulando o fortalecimento dos órgãos estaduais e municipais de meio ambiente.

Mas existem limites que não podem ser ultrapassados. É, portanto, inaceitável que o Congresso Nacional:

1) Anistie os fazendeiros que desmataram recentemente suas reservas florestais, afrontando conscientemente a legislação, particularmente após 2001, data da última alteração do Código Florestal.

2) Facilite novos desmatamentos, em qualquer bioma e para qualquer tamanho de propriedade; ao contrário, deve estabelecer uma moratória mínima de cinco anos na supressão de florestas nativas em todo o País.

3) Diminua o tamanho da reserva legal obrigatória, uma instituição genuinamente brasileira.

Decididamente, há espaço para compor uma boa posição entre o ambientalismo e o ruralismo, valorizando ambos. Para tanto, porém, é preciso superar o argumento polarizado. O raciocínio dualista, predominante na tradição ocidental, sempre opõe o bem contra o mal, o certo e o errado, santo contra pecador. Poderosa na religião, tal lógica costuma prejudicar a evolução das ideias e a solução dos problemas da sociedade. Assim acontece agora com a reformulação do Código Florestal.

Será necessário substituir esta briga atual, em que todos saem perdendo, por um jogo de vencedores, bom para o meio ambiente, bom para a agricultura. Acontece que nenhum jogo de futebol da Copa do Mundo chegaria ao final sem arbitragem. A grande culpa por essa encrenca recai sobre o governo Lula, que parece se divertir assistindo à triste peleja entre os agricultores e os ambientalistas.

Um descaso contra a galinha dos ovos de ouro do País.

151) Nouriel Roubini, o economista que previu a crise financeira.

Nouriel Roubini, el economista que predijo el crack financiero
Gillian Tett
El Cronista.com, Mon, 14 June 2010

Nació en Turquía y vive en Estados Unidos. Fue uno de los pocos intelectuales que pronosticó el colapso bancario. Antes fue criticado por alarmista cuando lo llamaban Dr Funesto. Hoy es uno de los gurús más prestigiosos y toda una celebridad hollywoodense.

El hotel Soho Grand de la neoyorquina Tribeca parece un set de filmación. Dominan la espaciosa recepción las columnas de concreto, las esculturas de metal y amplios sofás de cuero, que la gente elegante, de belleza inalcanzable decora con su presencia.

No parece ser el lugar para encontrarse a desayunar con un académico en Economía. Pero Nouriel Roubini no es el intelectual promedio. Hasta que comenzó la crisis financiera hace tres años Roubini se había dedicado a analizar la economía y a escribir obras como “Ciclos políticos yMacroeconomía” (1997) o “La nueva arquitectura financiera internacional” (coedición, 2005). También dio una serie de discursos referidos a la fragilidad del mundo de los bancos que fue tan agria que le valió el mote de Dr Doom (el Dr. Funesto).

Pero en 2007 se produjo un cambio inesperado. La crisis financiera estalló y, casi de la noche a la mañana, el mundo se dio cuenta de que él era uno de los pocos economistas que había anticipado un colapso bancario de tal magnitud. En la actualidad los líderes del mundo se sujetan de sus palabras, los periodistas van en tropel a sus discursos para enterarse de los últimos anticipos y los clientes pagan sumas altísimas a cambio de los análisis de su consultora Roubini Global Economics.

Su influencia fue más allá del mundo de los negocios y llegó hasta Hollywood. Aparece, representándose a sí mismo, en “Wall Street: Money Never Sleeps”, el próximo filme de Oliver Stone, que continúa la parábola de mercados enloquecidos de la década de los años ochenta, y también en “Inside Job”, un documental narrado por Matt Damon que se estrenará próximamente. Es algo así como un intelectual para enmarcar: su página de Facebook tiene muchas fotos de Roubini en fiestas llenas de estrellas, en general, acompañado de un grupo de mujeres de gran hermosura y juventud. Les encanta la belleza de mi mente... Soy feísimo, pero mi cerebro las atrae‘, le dijo a una sección de chismes el año pasado.

Pocos minutos antes de las ocho, el intelectual devenido en ídolo, de cincuenta y un años, llega a la recepción, vestido con un par de jeans de color negro y una camisa amarillo pálido con el cuello sin abotonar. Combina perfectamente con la decoración del hotel. La única nota disonante son sus zapatos de cuero marrón: sorprende cuán maltrechos están. ¿Es demasiado inteligente para preocuparse por la trivialidad de lustrarlos? O sencillamente, ¿confía demasiado en sí mismo como para que le importe? De cualquier modo, le da a este famoso economista un aire artístico un tanto raro.

Empiezo con: “¿Cómo se siente ser una celebridad?”. Él masculla: “La celebridad tan sólo es palabrería. La gente habla como si yo hubiera salido de la nada, como si todos estos años hubiera trabajado por cuenta en alguna oficina perdida antes de, repentinamente, volverme famoso. Pero eso no es cierto para nada. ¡Hace veinte años que trabajo de economista!”

Con indignación, repasa los detalles de su ejercicio profesional. Es inusitado. Nació en Estambul en 1959, de padres iraníes que profesaban la fe judía. Los primeros años de su vida los pasó en Irán; luego se mudaron a Italia, donde fue a la escuela y a la universidad. Más adelante, se mudó a los Estados Unidos y en Harvard se doctoró en Economía. Luego dio clases en Yale y en Nueva York. Roubini habla italiano, hebreo y persa, pero dice que sintió que en verdad había llegado a los Estados Unidos: “hace aproximadamente quince años, cuando comencé a soñar en inglés”. En este período también realizó trabajos para el Fondo Monetario Internacional (FMI), la Reserva Federal, el Banco Mundial, el Consejo de Asesores Económicos de la Casa Blanca y el Departamento del Tesoro, antes de poner en marcha su propia consultora.

Difícilmente ese sea el currículum de un don nadie. Pero en el otoño de 2006, mientras la economía mundial y los mercados de crédito estaban en auge, Roubini aún estaba lejos de ser un nombre reconocido cuando le advirtió al FMI: “es probable que los Estados Unidos enfrenten, por única vez, el estallido de la burbuja inmobiliaria, la conmoción en la industria del petróleo, la abrupta caída en la confianza del consumidor y, finalmente, una profunda recesión”, además, que “los propietarios no cumplan los pagos de las hipotecas, y que billones de dólares en títulos garantizados con hipotecas fallen en todo el mundo y el sistema financiero global se detenga repentinamente”. Era una apuesta muy audaz; tanto, que muchos líderes y economistas creyeron que Roubini estaba un poco loco.

En realidad, cuando Roubini fue el Foro Económico Mundial que se reunió en Davos, en enero de 2007, e hizo estos anuncios, no se le prestó atención a sus advertencias. Lo conocí en este resort montañés de aire enrarecido, y recuerdo muy bien nuestro encuentro. Durante los meses anteriores, yo también había empezado a escribir sobre los peligros de las finanzas complejas (si bien de un modo mucho menos elocuente e impresionante que el de Roubini), y esos artículos desencadenaron las críticas de algunas de los luminares reunidos en Davos, que me tacharon de ser “alarmista”. Pese a que no nos habíamos conocido -y habíamos hablado poco desde que lo hicimos-, Roubini defendió vigorosamente mis artículos en un soleado almuerzo muy concurrido que se ofreció en un hotel suizo. Le expresé mi agradecimiento; los agoreros eran muy pocos en ese entonces.

Riendo, Roubini señala: “Lo recuerdo”. Luego evoca, no sin enojo, el artículo que Michael Lewis, autor del ensayo “Liar’s Poker” (1989) y de “The Big Short” (2009), que escribió en esa reunión de Davos, en la que se llamó debiluchos y sosos a los agoreros como Roubini. “Sorprende el modo como algunas personas cambiaron su forma de pensar”, afirma y añade con mordacidad, “Ahora todos son generales después de la batalla”.

Con el profesor de historia económica Stephen Mihm, Roubini es coautor de un libro que trata el colapso bancario, “Crisis Economics”, que aspira a responder a la pregunta de ¿por qué el mundo perdió el control en 2007? y sugiere qué es lo que puede hacerse para subsanarlo. A primera vista, parece dedicarse a la misma temática que los libros originados en el aprieto económico, que en la actualidad los economistas producen en serie. Sin embargo, lo que distingue a esta obra es que Roubini puede afirmar que entendió lo que sucedía antes de que sobreviniera el desastre, a diferencia de casi cualquier otro economista, con la excepción de William White y Claudio Borio del Banco de Pagos Internacionales (BPI). Le pregunto qué fue lo que le dio certeza de que estaba en lo correcto. Me explica: “Después de diez años de analizar los mercados emergentes, sé que Uds. tienen patrones que se repiten una y otra vez. Una burbuja es como el fuego, que precisa oxígeno para seguir ardiendo... cuando ya no hay oxígeno, las cosas cambian”. Más concretamente, en el verano de 2006, Roubini ya veía que el mercado inmobiliario había alcanzado su pico. Eso lo convenció de que el sistema estaba a punto de colapsar, porque había mucha deuda hipotecaria.

Siguió dando advertencias desde el colapso financiero. A principios de 2009, sostuvo que la crisis bancaria podría no haber llegado a su fin. También insinuó que había una probabilidad del 20% de una W (nueva caída en la recesión), a causa de que el crecimiento estadounidense sería muy débil. De hecho, la economía de los EE.UU. se recuperó más rápidamente que lo esperado y también subió el valor de las acciones de los bancos. Por todo ello, algunos rivales se regodean en decir que lo que Roubini tuvo en su mensaje de 2006 fue, simplemente, suerte. Pese a ello, Roubini replica con rapidez que aún es demasiado pronto para concluir que la economía mundial camina hacia la recuperación. Y al menos un mensaje de los que envió últimamente estuvo en lo cierto: durante el año pasado, advirtió repetidas veces sobre los peligros de acechar la deuda soberana. En especial, cree que las dificultades que hay en Grecia son reflejo del problema mayor que enfrenta el mundo occidental, pues parece que los gobiernos no tienen la voluntad de tratar de resolver la deuda gubernamental creciente.

“En la actualidad, lo que en verdad me preocupa sobre los EE.UU. es que tienen estancamiento político”, afirma Roubini y sostiene que esto evita que el gobierno tome las decisiones arduas que se necesitan. “El Reino Unido tiene el mismo problema. No hay una voluntad real de recortar gastos o aumentar los impuestos”. En consecuencia, “habrá tentación de seguir monetizando el déficit fiscal”, lo que finalmente produce inflación.

Para detener esos riesgos, Roubini quiere que los líderes cooperen con la línea de los partidos y que dejen atrás las antiguas etiquetas ideológicas de la “derecha” y la “izquierda”. “Crecí en la Italia de la década de los años sesenta y setenta, y fue un período de mucha agitación social, en la que hasta los adolescentes más jóvenes estaban en política. En ese momento, era un más de centroizquierda”, afirma. En la actualidad, es de centro por lo que respecta a las cuestiones económicas, pues cree que los gobiernos precisan gastar durante una crisis, de modo de respaldar el sistema, lo que está de acuerdo con el pensamiento económico keynesiano; sin embargo, cree que, cuando la crisis llega a su fin, deben cambiar por los enfoques de libremercado, y así refleja los principios de la denominada Escuela Austríaca de Economía. “Hay una gran discusión entre la escuela keynesiana y la austríaca. Pero soy pragmático y ecléctico. Se trata del momento oportuno”.

Entonces, en su opinión, la gente, ¿donde debería invertir en este momento? ¿Qué es lo que él hace? Evasivo, responde: “Jamás compré siquiera una acción, un bono o divisa. Tengo mi 401k (plan de ahorro y aporte jubilatorio) en un fondo de tipo pasivo, que tiene el 100% de inversiones en acciones, la mitad de Estados Unidos y la otra mitad de otras partes. El resto de los ingresos que percibí en los últimos años está en dinero. En algún momento, volveré a los activos que involucren un riesgo mayor, mas no ahora”. Insinúo que esta cautela parece propia del Dr. Doom. No está de acuerdo. “Como apodo, Dr. Doom era lindo y me gustó durante un tiempo, pero en lo que ahora insisto es que soy el Dr. Realist (Dr. Realista)”.

En otras palabras, Roubini ahora quiere que se lo conozca como el sabio que puede dar consejos provechosos y prácticos, en vez del que es capaz de anticipar el desastre. Ciertamente, el día que nos conocimos él había escrito un artículo para el FT, en el que acuciaba a Europa a permitir que Grecia reestructurase su deuda. Y recién regresó de Washington, donde se entrevistó con un grupo de ministros de finanzas y banqueros centrales de Occidente. “Lo que me importa es que, cuando escribo algo, la gente me escuche. Les doy mi sabiduría, con independencia de que coincidan con ella o no”.

Mientras le agrega cucharadas de yogur a la granola, voy directo al grano. ¿Cómo es posible que esta elevada “sabiduría” económica conviva con la fama que recientemente descubrió y lo catapultó a las noticias de chismes? Suspira: “La fama se volvió una carga; el horario es más exigido. La gente cree que viajar en avión a distintos lugares es glamoroso. Pero no lo es, pues aun cuando uno viaje en clase business y se hospede en hoteles fantásticos, uno está a 10.000 millas de su hogar”. Admite que está de viaje casi las tres cuartas partes de cada año; no sorprende saber que su nueva obra se escribió, en su mayor parte, a bordo de un avión.

150) Esses Judeus Problemáticos, por Charles Krauthammer.


Esses Judeus Problemáticos

Retirado da RUA JUDAICA

Por: Charles Krauthammer
The Washington Post – 04. junho. 2010

O GLOBO 8 de junho de 2010

O mundo está indignado com o bloqueio de Gaza por Israel. A Turquia denuncia a sua ilegalidade, a desumanidade, a barbárie, etc. Os suspeitos de praxe que participam da ONU o Terceiro Mundo e a Europa se juntam. A administração Obama treme.

Mas como escreve Leslie Gelb, que é o ex-presidente do Conselho de Relações Exteriores, o bloqueio não é apenas perfeitamente racional, mas é perfeitamente legal. Gaza está sob o domínio do Hamas que é inimigo autodeclarado de Israel – e esta autodeclaração é acompanhada por mais de 4.000 foguetes disparados contra civis que moram em território israelense.

Muito embora se comprometendo e se empenhando numa incessante beligerância, o Hamas reivindica ser a vítima, mesmo quando Israel impõe um bloqueio para impedir que esse mesmo Hamas se arme ainda com mais foguetes. Na II Guerra Mundial, com uma legalidade internacional completa, os Estados Unidos mantiveram o bloqueio para a Alemanha e o Japão. E em outubro de 1962, durante a crise dos mísseis, os EUA colocaram em prática o bloqueio ("quarentena") de Cuba. Navios russos com armas que seriam entregues para Cuba voltaram porque os soviéticos sabiam que a marinha americana os abordaria ou iria afundá-los. No entanto, Israel é acusado de ser um criminoso internacional por fazer exatamente o que John Kennedy fez: por em prática um bloqueio naval para impedir que um Estado hostil adquira armamentos letais.

Oh, mas os navios que iam para Gaza não estavam numa missão de ajuda humanitária? Não. Caso contrário, teriam aceitado a oferta de Israel para que levassem o que transportavam para um porto israelense para inspeção relativa a materiais militares e o restante transportado por Israel para Gaza – pois todas e a cada semana 10 mil toneladas de alimentos, remédios e outros suprimentos humanitários são enviados por Israel para Gaza. Então porque essa oferta foi recusada? Porque, como a própria organizadora Greta Berlin admitiu o objetivo da flotilha não era o socorro humanitário, mas sim a quebra do bloqueio, ou seja, o término das inspeções por Israel, o que na prática significaria a navegação ilimitada para Gaza e, portanto, o fornecimento ilimitado de armamentos para o Hamas.

Israel já interceptou por duas vezes navios pesadamente carregados de armas iranianas destinadas ao Hezbollah e para Gaza. Que país permitiria isso? Mas ainda mais importante, por que Israel ainda tem que utilizar o bloqueio? Porque, o bloqueio é uma forma de defesa no mesmo momento que o mundo deslegitima o direito de Israel de se defender – de forma antecipada e pró- ativa.

(1) Defesa antecipada: Por ser um pequeno país densamente povoado cercado por países hostis, Israel durante mais da metade de um século adotou este tipo de defesa – lutando as guerras em território inimigo (como no Sinai e Colinas de Golã), e não no seu próprio território. Sempre que possível (o Sinai, como um bom exemplo), Israel trocou territórios por paz. Mas quando as ofertas de paz foram recusadas, Israel manteve espaços como zonas tampão de proteção. Assim, Israel manteve uma pequena faixa do sul do Líbano para a proteção das cidades do norte de Israel. E sofreu muitas perdas na Faixa de Gaza para que as cidades fronteiriças israelenses não fossem expostas aos ataques terroristas palestinos. E, pelos mesmos motivos que a América trava uma árdua guerra no Afeganistão: Você luta com eles lá, então você não terá que lutar com eles aqui. Mas, sob uma pressão externa esmagadora, Israel está desistindo. Aos israelenses foi dito que as ocupações não eram somente ilegais, mas eram a causa das revoltas anti-Israel e, portanto, a retirada, que seria o motivo, traria a paz.

Terra por paz. Lembram-se? Bem, durante a última década, Israel entregou terras – evacuou o sul do Líbano em 2000 e deixou Gaza em 2005. O que conseguiu ? A intensificação da beligerância, a intensa militarização do lado inimigo, muitos seqüestros, ataques que atravessam as fronteiras e, lançados de Gaza, anos de implacáveis ataques de foguetes.

(2) Defesa pró-ativa: Israel, então teve que mudar para uma defesa ativa – ações militares para impedir, desmantelar e derrotar (emprestando a descrição do presidente Obama para a campanha dos EUA contra os Talibãs e a al-Qaeda) contra os mini-estados terroristas e pesadamente armados localizados no sul do Líbano e em Gaza depois que Israel se retirou. Quais foram os resultados? A guerra do Líbano em 2006 e ataques lançados de Gaza entre 2008 a 2009. E mais uma avalanche de calúnias pela mesma comunidade internacional que havia exigido as retiradas israelenses com o propósito de terras x paz. E o pior, o relatório Goldstone da ONU, que basicamente criminalizou a operação defensiva de Israel na Faixa de Gaza, enquanto encobriu o ‘casus belli’ – os pesados ataques com foguetes pelo Hamas que precederam a operação – e que efetivamente deslegitimou qualquer defesa pró-ativa por parte de Israel contra os seus autodeclarados inimigos que utilizam o terror.

(3). Defesa passiva: Sem a defesa antecipada ou defesa pró-ativa para Israel somente é permitida a forma mais passiva e benigna de todas as defesas - um bloqueio para simplesmente impedir o rearmamento do inimigo. No entanto, nesse exato momento que falamos também está sendo deslegitimado pelas organizações internacionais. Mesmo os Estados Unidos agora está tendendo para que o mesmo seja abolido.

Mas, se nenhum destes pontos são permitidos, o que resta?

Ah, mas esse é o ponto. É o ponto que a flotilha rompe-bloqueio com inocentes úteis e simpatizantes do terror, pela organização testa-de-ferro turca que a financiou, pelo coro automático anti-Israel do Terceiro Mundo nas Nações Unidas e pelos preguiçosos europeus que não mais querem saber do problema judaico.

O que mais resta? Nada. O ponto central desta campanha implacável internacional é privar Israel de qualquer forma legítima de autodefesa. Por que, na semana passada, a administração Obama se juntou aos chacais, e inverteu uma prática de quatro décadas seguida pelos EUA, assinando um documento de consenso que coloca o foco em Israel por possuir armas nucleares? – e assim deslegitimar a última linha defesa de Israel: a dissuasão. É, parece que o mundo está cansado desses judeus incômodos, 6 milhões - esse número mais uma vez – ao lado do Mediterrâneo, a cada convite se recusando ao suicídio nacional. E por isso são incansavelmente demonizados, restritos a guetos e impossibilitados de se defenderem, até mesmo quando os mais empenhados anti-sionistas – o Irã, em particular - abertamente prepara uma solução mais definitiva.

letters@ charleskrauthammer.com

© 2010 The Washington Post Company

149) O Brasil consegue crescer a mais de 5%?


Este texto também foi escrito em 2006, no contexto político e econômico das eleições que estavam sendo realizadas e que tinham recém sido ganhas pelo candidato no poder. Creio que sua validade se mantém: o clima político é quase o mesmo (com essa mania de plebiscito entre "nós e eles", entre "antes e depois"), e os problemas permanecem praticamente os mesmos (as reformas também, inconclusas ou sequer iniciadas)...






Uma verdade inconveniente

(será que o Brasil consegue crescer 5% ao ano?)
Paulo Roberto de Almeida (11 de novembro de 2006) 


Nos dias que antecederam o segundo turno da campanha presidencial do mês de outubro de 2006 e nos dias que se seguiram à vitória do presidente-candidato, não apenas o oponente derrotado, mas também o incumbente bem sucedido proclamaram diversas vezes a intenção partilhada de “fazer mais e melhor”, isto é, de acelerar o crescimento econômico brasileiro. O líder reconduzido ao cargo chegou a citar a cifra – não se sabe se mágica, ou apenas anódina, em vista de taxas bem maiores em outros países emergentes – de 5% anual como índice aceitável, ou até mesmo necessário, para o crescimento do PIB. 
Com todo o respeito por promessas eleitorais – embora eu por vezes acredite que elas não merecem o menor respeito –, ou até mesmo “projetos de governo”, uma verdade inconveniente precisa ser dita: o Brasil, caso único entre os países emergentes, atende a todos os requisitos para, justamente, NÃO crescer. Minha intenção, neste breve ensaio, é demonstrar como o Brasil não conseguirá atender aos objetivos presidenciais de uma taxa mais rápida de crescimento econômico por uma razão muito simples: ele NÃO consegue crescer e a razão disso encontra-se na própria máquina do governo: perdulária, gigantesca, extratora de recursos da sociedade, despoupadora da riqueza dos cidadãos.
Em economia, como se diz, não existem certezas absolutas, mas algumas relações matemáticas – que não são verdades científicas, mas que podem ser comprovadas empiricamente – podem ser estabelecidas com algum grau de certitude. Entre elas, as conexões entre taxas de investimento e taxas de crescimento, a relação capital-produto (que varia setorialmente), os vínculos entre competitividade externa e paridade cambial, os efeitos sobre a demanda agregada derivados das políticas monetária, fiscal e tributária, bem como variações nos níveis de emprego em função de encargos laborais ou medidas setoriais (inclusive a taxação sobre o lucro das empresas e a renda dos agentes privados). 
Pois bem, não se sabe de onde foi tirada essa cifra de 5% de crescimento, mas o que pode, sim, ser afirmado, é que, com uma taxa de investimento anual inferior a 20% do PIB, torna-se impossível crescer mais do que 3% ao ano. Se o Brasil desejar crescer mais do que isso, vai ter de aumentar consideravelmente o nível dos investimentos, o que não quer dizer, necessariamente, a poupança doméstica – pois esta pode ser suplementada pela poupança externa, ou até aumentar no bojo do próprio processo de crescimento –, mas é certo que o País precisa diminuir, e rapidamente, o nível da “despoupança” estatal, que consome os recursos dos particulares no estéril jogo das despesas públicas. Como isso poderia ocorrer, nenhum dos candidatos, ou o presidente reeleito, soube dizer.
Uma das evidências mais inquestionáveis da política econômica das últimas décadas, tal como demonstrada por exercícios conduzidos sobre a base de longas séries estatísticas dos países da OCDE, é a que víncula o nível das despesas públicas com as taxas de crescimento anual. Em sua pesquisa sobre as causas dos diferenciais de crescimento entre as economias da OCDE ao longo de quarenta anos a partir dos anos 1960 – em plena era keynesiana, portanto –, o economista americano James Gwartney, da Florida State University (ver sua página: http://garnet.acns.fsu.edu/~jgwartne/) , demonstrou a existência de uma correlação direta entre crescimento econômico e carga tributária. A explicação para esse fenômeno é tão simples como corriqueira: quanto maior o nível da punção fiscal sobre a sociedade, menor é o incentivo para que os agentes econômicos se disponham a oferecer uma contribuição positiva para a sociedade. Quanto mais alta a carga tributária, mais e mais recursos fluem dos setores produtivos para o aparato geralmente ineficiente do governo. 
Aos keynesianos ainda não convencidos por esta simples correlação matemática, ou apenas empírica, eu recomendaria uma consulta rápida ao trabalho de Gwartney, junto com J. Holcombe e R. Lawson, “The Scope of Government and the Wealth of Nations”, The Cato Journal (Washington: vol 18 (2); outono de 1998, p. 163-190; disponível no link: http://garnet.acns.fsu.edu/~jgwartne/scope_of_govt_gwartney.pdf). Os preguiçosos, os pouco habituados à terminologia econômica ou desconfortáveis com a língua inglesa, podem ir direto à figura 2 – visualmente eloquente –, à página 171, que contém a plena evidência do que acabo de afirmar, com base nesse trabalho: a taxa média anual de crescimento do PIB, entre 1960 e 1996, para os países cuja carga fiscal é inferior a 25% do PIB foi de 6,6%, ao passo que o mesmo indicador para os países com carga superior a 60% do PIB foi de apenas 1,6%. As simple as that, como diriam os americanos. 
Aqueles que, por outro lado, se encantam com as supostas virtudes do “modelo escandinavo” de desenvolvimento – como, por exemplo, os tecnocratas da União Européia ou o economista de Columbia Jeffrey Sachs, em artigo publicado na Scientific American de 16 de outubro de 2006, “The Social Welfare State, beyond Ideology” (disponível no link: http://www.sciam.com/print_version.cfm?articleID=000AF3D5-6DC9-152E-A9F183414B7F0000), no qual ele afirma, expressamente, que “Friedrich von Hayek was wrong”, e que o modelo nórdico é bem melhor do que o modelo anglo-saxão (que, como se sabe, produz mais crescimento do que o modelo da Europa continental) –, deveriam refletir seriamente sobre as evidências também fornecidas no artigo “The Myth of the Scandinavian Model”, assinado pelos economistas belgas Martin De Vlieghere, Paul Vreymans e Willy De Wit (do think tank flamengo Work for All, no link: http://www.workforall.org/html/faq_en.html) e publicado no The Brussels Journal (25/11/2005; link: http://www.brusselsjournal.com/node/510). Uma consulta ampliada à página principal do site da instituição belga de pesquisas econômicas traz comprovações tão aplastantes sobre o sucesso do modelo irlandês de crescimento econômico – baseado, justamente, em baixas taxas governamentais sobre o lucro das empresas e sobre o trabalho –, em contraste com o medíocre desempenho das economias escandinavas ou continentais (entre elas a sua Bélgica natal), que os economistas, como Sachs, que recomendam um grande Estado indutor e generosas redes de proteção social, deveriam reconsiderar seriamente suas prescrições de política econômica, pois elas estão, de fato, contribuindo para o lento declínio dessas sociedades outrora bem mais prósperas.
Claro, existem aqueles que acreditam que as taxas de crescimento experimentadas pela Irlanda, ou pela Espanha, em determinados períodos, são devidas aos abundantes subsídios comunitários, que irrigaram essas economias com pesados investimentos em infra-estrutura ou em outros setores produtivos. As evidências, porém, demonstram que a Irlanda – que efetivamente recebeu transferências de Bruxelas a partir de seu ingresso na então Comunidade Européia, em 1972, já que o país ostentava então metade da renda per capita da média comunitária – começou a crescer apenas a partir de 1985, quando ela reformou inteiramente sua estrutura tributária, no sentido de aliviar a carga sobre as empresas e o trabalho, e quando, justamente, esses subsídios europeus começaram a diminuir. As estatísticas estão disponíveis no site de Work for All (http://workforall.net).
A explosão de crescimento na Irlanda, a uma taxa superior a 5% ao ano nas duas últimas décadas, continuou sustentada, mesmo quando o desempenho econômico geral da UE começou a diminuir ao longo dos anos 1990. Outras regiões deprimidas da Europa, como a Valônia belga, ou a Grécia, receberam igualmente, subsídios generosos, com efeitos muito limitados sobre as taxas de crescimento, em virtude, justamente, de aspectos negativos em outras vertentes, entre eles o nível das despesas governamentais. Um eloquente gráfico comparativo entre o desempenho da Bégica e da Irlanda, inserido no site do think tank (http://workforall.net/English/size_of_government.gif), ilustra à perfeição que a elevação da taxa de crescimento da Irlanda começou, precisamente, em 1985, quando o país reduziu sua carga fiscal. 
Como evidenciado nesses trabalhos de pesquisa empírica, a conclusão de que governos desmesurados prejudicam o crescimento e que altas alíquotas tributárias sobre a renda e o trabalho são os impostos mais distorcivos de todos – em oposição aos impostos sobre o consumo – não está apoiada na comparação entre dois únicos países, mas deriva de análises científicas de regressão múltipla com muitos países envolvidos (o estudo está neste link: http://workforall.net/Tax_policy_and_Growth_differentials_in_Europe.pdf; um resumo neste aqui: http://workforall.net/EN_Tax_policy_for_growth_and_jobs.html).
No caso do Brasil, infelizmente, todos sabem dos níveis anormalmente elevados da carga fiscal e das despesas públicas, que nos colocam, inevitavelmente, na faixa dos países impossibilitados de crescer mais de 3% ao ano. Como vem demonstrando, desde longa data, o economista Ricardo Bergamini (http://www.rberga.kit.net/), o Brasil vive um verdadeiro “manicômio tributário” (http://www.rberga.kit.net/ap/pr/pr39.html), com profusão de impostos atingindo justamente os setores produtivos. Adicionalmente, uma parte significativa da renda dos não tributados diretamente, isto é, as faixas dos cidadãos mais pobres, também é extraída compulsoriamente pelo Estado sob a forma de impostos sobre os produtos e serviços, em níveis anormalmente elevados no Brasi, em comparação com outros países. 
Evidências adicionais sobre os problemas fiscais, tributários e de má alocação dos recursos coletados pelo Estado brasileiro junto aos únicos produtores de riqueza do país, que são os agentes econômicos privados – empregadores e trabalhadores –, estão contidas num livro que acaba de ser publicado sob a coordenação do economista Marcos Mendes: Gasto Público Eficiente: 91 propostas para o desenvolvimento do Brasil (Rio de Janeiro: Topbooks, Instituto Fernand Braudel, 2006). O capítulo 2 desse livro, assinado pelos economistas Cláudio D. Shikida e Ari Francisco de Araújo Jr. (do Ibmec-MG), “Por que o estado cresce e qual seria o tamanho ótimo do estado brasileiro?”, demonstra, se ainda preciso fosse, como o Estado vem crescendo insidiosamente nos últimos vinte anos, no Brasil, coincidentemente um período de apenas 2,5% de crescimento médio anual do PIB (e de 1% de crescimento do PIB per capita). Durante o mesmo período, a maior economia do planeta, os EUA, que sairam de um PIB de 3 ou 4 trilhões de dólares para alcançar a casa dos 13 trilhões de dólares, mantiveram-se exatamente no mesmo patamar de carga fiscal, em torno de 29% do PIB (para nada dizer dos encargos reduzidos sobre a folha de pagamentos salariais das empresas). Com base nas evidências disponíveis, eles chegam à conclusão de que o ponto “ideal” da carga fiscal, nas condições brasileiras, não deveria ser superior a 32% do PIB. Registre-se, apenas, que a média para os países emergentes situa-se em 28% do PIB, sendo que países de maior crescimento ostentam taxas de 17% (China) ou de 18% (Chile) do PIB, ao passo que os ricos países europeus, que crescem abaixo de 3%, estão na faixa de 38% do PIB (que é a ostentada atualmente pelo Brasil, mas com tendência a um crescimento ainda maior), com picos acima de 50% para os já referidos escandinavos (estes, que sairam de altos patamares de renda per capita, vêem declinando lentamente, alinhando-se com as médias “normais” dos países da OCDE). 
Em síntese, a única conclusão possível a ser retirada dessa abundância de dados quantitativos e de análises qualitativas sobre as condições objetivas e os requerimentos do crescimento econômico seria mesmo esta: o Brasil é um país excepcionalmente bem preparado para NÃO CRESCER. Verdades inconvenientes como estas devem ser ditas e merecem ser repetidas de modo contínuo, até que as pessoas comuns e sobretudo aqueles economistas que se consideram keynesianos, ou ainda desenvolvimentistas, tomem consciência dos fatores impeditivos ao crescimento brasileiro e resolvam contribuir para a construção de um consenso que se torna cada vez mais necessário para a definição de uma agenda de desenvolvimento nacional: ou o Brasil diminui o peso excessivo do Estado sobre os cidadãos ativos e as empresas, ou o Estado continuará a pesar sobre a taxa de crescimento do país. Não há como escapar a essa verdade inconveniente...


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de novembro de 2006

148) Entrevista de Hans Rühle à Deutsche Welle sobre seu artigo na Der Spiegel.



Entre brasileiros comuns, que andam pelas ruas e assistem à televisão, a ideia de construção de uma bomba atômica soa improvável. Mas não para um pesquisador que acompanha o desenrolar político brasileiro de fora do país.
No início do mês, um artigo do alemão Hans Rühle aguçou o debate sobre a proliferação de armas atômicas. Num longo texto em que revisita episódios da história da ditadura militar e reproduz depoimentos de autoridades brasileiras importantes – como o presidente Lula –, Rühle diz que o Brasil pode estar, sim, desenvolvendo uma bomba atômica às escondidas.
A opinião publicada na revista alemã Internationale Politik, do Conselho Alemão de Relações Internacionais, repercutiu na Europa.
A Deutsche Welle conversou com o pesquisador, ex-diretor do departamento de planejamento do Ministério alemão da Defesa e especialista em questões de armamento.
Hans Rühle

Deutsche Welle: Em quais fatos o senhor se baseou para escrever o artigo?
Hans Rühle: Primeiro, é preciso lembrar que o Brasil teve três diferentes programas nucleares entre 1975 e 1990. Eles acabaram, mas não está claro o que aconteceu com eles. E constato que, desde 2003, há desenvolvimentos difíceis de interpretar.
Por um lado, o Brasil é membro do Tratado de Não-Proliferação. Por outro, os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica se deparam com grandes obstáculos quando querem inspecionar o território. O país também se recusa a permitir controles de centrais nucleares não declaradas oficialmente.
E também é preciso dizer que o Brasil tem um programa de submarino nuclear que também está vedado aos inspetores. Sabemos que o grau de enriquecimento de urânio desse tipo de programa permite a construção de armas atômicas.
Mas o Brasil é um signatário do Tratado de Não-Proliferação...
Este é o problema: o Brasil não assinou o protocolo adicional do acordo, que amplia os poderes de controle da agência. Acho que só 4 ou 5 países não assinaram o acordo, entre os quais o Brasil. (nota do editor: o acerto adicional foi assinado por 98 países).
Esse protocolo autoriza o livre acesso a todos os locais de atividade nuclear, a qualquer hora, sempre que houver uma suspeita, de modo que os inspetores possam investigar todas as instalações. Os brasileiros não assinaram esse protocolo, o que significa que as autoridades de Viena só podem visitar as instalações declaradas.
Mas o presidente Lula já disse várias vezes que o Brasil não assinará essa parte do tratado.
Estamos falando de um país democrático, com uma Constituição que proíbe o uso de armas nucleares.
Essa proibição está numa Constituição de 1988, formulada por um governo anterior à presidência de Lula. E ele já deixou claro que não concorda com as decisões então tomadas, nem com a assinatura do Tratado de Não-Proliferação, nem com a proibição constitucional de armas atômicas.
Além disso, a Constituição não permite a construção de armas atômicas, mas autoriza as chamadas "explosões nucleares pacíficas", que, no fundo, não são muito diferentes de explosivos nucleares. São diferentes só no nome.
O melhor exemplo disso é a Índia, que nesse caso serve de modelo para o caso brasileiro. Em 1974, a Índia realizou uma dessas explosões e a declarou como pacífica. Hoje sabemos dos próprios indianos do que se tratava de fato. O responsável pela operação afirmou, 23 anos depois: "Claro que foi uma bomba, e de forma alguma pacífica".
Além do mais, a Constituição brasileira permite ser contornada.
Mas você disse em seu artigo que não há provas concretas de que o Brasil esteja construindo uma bomba. Quão grande é o risco de que isso seja verdade?
Essa questão de evidências sempre é difícil. Podemos fazer uma comparação entre Brasil e o Irã. Sabemos mais sobre o Brasil do que sobre o Irã. Citei o vice-presidente argentino, que há um ano disse que o país precisa de armas nucleares. No Irã, isso jamais foi dito por líder algum. Ou seja, no caso brasileiro, estamos significativamente à frente.
Temos um conhecimento relativamente reduzido sobre as instalações brasileiras. Mas sabemos que o Brasil tem possibilidades infinitamente maiores no que diz respeito ao processo nuclear. O país já faz isso há 30 anos e domina todas as etapas do processo.
Não foi à toa que citei os institutos americanos de Los Alamos e Livemore, segundo os quais o Brasil, se quiser, pode construir armas nucleares em três anos.
Não posso dizer, no caso brasileiro, quando isso vai acontecer, pois não sei quando o programa começou. Aliás, provavelmente ninguém sabe, a não ser os brasileiros.

Entrevista: Christina Krippahl (np)
Revisão: Simone Lopes

[Fonte: DefesaNet]