sexta-feira, 22 de outubro de 2010

219) A militância do PT é compatível com os preceitos democráticos?

Como diria Weber, mas em outras palavras: é próprio do devoto fanático o sacrifício da razão. A ação de muitos militantes petistas tem sido exemplificação de tal assertiva. Falo em dois casos específicos: o primeiro, do grupo que foi pressionar o dono de uma das gráficas responsáveis pela impressão do folheto clerical anti-Dilma; o segundo, do incidente em que foi arremessado um objeto na cabeça de José Serra. Estes são bons exemplos de quando a devoção a uma causa faz com que pessoas cometam os atos mais sórdidos a despeito de qualquer questionamento moral ou racional. Não penso haver dúvidas em relação ao fato de terem extrapolado o marco legal sobre o qual está assentada nossa democracia ao intimidarem o gráfico à revelia de seus direitos individuais e ao hostilizarem um candidato legítimo à Presidência da República.

A desculpa de que houve manipulação de imagens não se aplica ao primeiro caso quando o próprio vídeo veiculado no sítio do partido mostra perfeitamente quão insidiosa foi a situação. Quanto ao segundo caso, há quem diga que foi armação do candidato do PSDB e queira minorar a situação. O ponto não é o que foi jogado nele, mas a hostilidade a ele. Assim, teria-se o problema mesmo se fosse um algodão que o atingisse. O fato ocorrido foi a ação de elementos petistas para que a passeata do candidato da oposição não seguisse seu devido curso. Certamente, um ataque a um instituto democrático.

Houve quem quisesse estabelecer alguma relação disto com a S.A. nazista. Em verdade, uma comparação muito fraca quando se conhece a história brasileira. Esse tipo de fato remete-nos ao tempo em que a política carioca era feita nas ruas pelos capoeiras. Os políticos mantinham capangas para pressionar ou eliminar seus desafetos. Formavam-se gangues que muitas vezes se enfrentavam dando grande instabilidade ao panorama político de então. Percebe-se aí o expediente de meios extra-legais respondendo a interesses particulares. Este é um traço não de um ambiente totalitário, senão de uma sociedade patrimonialista como ainda é a nossa. Denota a fraqueza de nossas instituições que ainda não conseguem impor seu jugo a todos no território brasileiro.

Por fim, devem ser penalizados aqueles que se valeram de meios violentos ou de coação para atingirem seus fins políticos. A impunidade poderá servir como estímulo à formação de grupos que recorram à violência para fazer justiça com as próprias mãos. Neste caso, estarão soltos os monstros da barbárie.

Vinícius Portella

Porto Alegre,
22 0316 out 2010. 

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