Alexandre Garcia, parece-me um sujeito arguto e vivaz. Acabo de encontrar este comentário do referido jornalista
http://www.youtube.com/watch?v=g1sfgEv--hA&feature=related
20 maio de 2010.
Mais um da série "empoeirados". Apenas publico-o...
Vinícius Portella
Porto Alegre,
22 0353 out 2010.
Testemunha da história
Há quase dois meses, com efeito multiplicador e instantâneo, circula pela internet uma mensagem "informando" que Alexandre Garcia fora demitido da Rede Globo, depois de fazer pesadas críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo, contrariado, teria pressionado a empresa a colocar na bandeja a cabeça de um dos seus melhores jornalistas. A notícia é falsa e Alexandre Garcianão está começando a leitura dos jornais pelo caderno de classificados, procurando emprego.
Foi na TV Globo de Brasília que ele concedeu esta entrevista, rememorando a sua trajetória profissional. Tal qual um correspondente de guerra, o relato do repórter é esclarecedor de muitos fatos, até então desconhecidos. Ele faz revelações inéditas, como o dia em que o presidente João Figueiredo ficou nu em sua frente, sem qualquer protocolo, enquanto viajavam a bordo de um Búfalo da FAB.
Um boato produzido por alguém na internet, gerando uma desinformação, acabou proporcionando revelações esclarecedoras sobre uma época no país que precisa, mais do que nunca, ser pesquisada, para a melhor avaliação histórica.
Marcone Formiga - Corre na internet o boato que você foi demitido da TV Globo. Você sabe disso?
Alexandre Garcia - A internet aceita tudo. Pode-se botar qualquer coisa na internet. Não faz nenhuma diferença... O que aconteceu foi o seguinte: aquele comentário meu no Bom Dia Brasil estava circulando na internet. Circulando sobre o epíteto: “Olha só a indignação do
Alexandre Garcia”. Lá pelas tantas, deve ter caído na mão de um internauta, provavelmente um garoto, que pensou: “Ah, então foi por isso que ele foi demitido”, e espalhou. Por quê? Porque, para o garoto, o meu nome é Franklin Martins. Deve ter sido isso. Se bem que o Franklin também não foi demitido. Simplesmente não foi renovado o contrato dele. As pessoas me cumprimentam na rua dizendo: “Sou seu fã, Paulo Henrique Amorim”, “como vai o senhor, Hermano Henning?”, “vejo o seu programa todos os dias, seu Joelmir Beting”. Então, o menino viu e pensou que fosse por isso que tiraram o Franklin Martins.
Marcone Formiga - Mesmo você aparecendo na telinha, ou seja, visualmente conhecido?
Alexandre Garcia - Eu costumo dizer que se, por exemplo, meio dia um sujeito recebe uma mensagem pela internet dizendo que o sol não vai nascer, ele ficará preocupadíssimo. Ele sabe que o sol já nasceu, mas leu na internet que o sol não vai nascer. Existe um texto na internet, bastante piegas, que dizem que é meu. Quando me perguntam se o texto é meu eu respondo que não, porque jamais escreveria uma palavra do tamanho de “questionamento”, como está no texto. Eu já li textos na internet do Fernando Pessoa dizendo: “espero que vocês me mandem e-mails...” (risos) Vi até texto mal escrito do Fernando Veríssimo, prosa horrorosa do Mário Quintana. São pessoas na internet, nesses casos, que sabem que se mandarem um texto delas aspirando que seja lido, não vai ser... Então, põe o nome de alguém conhecido para que alguém leia, ficando com o ego inflado, já que, enfim, está sendo lido, embora sob o nome de Franklin Martins, Mario Prata, Drummond... A internet aceita tudo. Agora, o que eu acho terrível é o sujeito receber isso, me ver no “Bom Dia Brasil”, no “Globo Repórter”, no “Espaço Aberto”, no “Jornal Nacional”, no “DF-TV”, e passar adiante para mais vinte pessoas. Isso é uma maluquice!
Marcone Formiga - A sua origem foi a mídia impressa. Qual é a diferença?
Alexandre Garcia - No fundo, a minha origem foi com o microfone. Meu pai era de rádio e, quando eu tinha sete anos, me chamava para fazer papéis infantis em novela. Isso lá na Rádio Cachoeira. Naquele tempo, não havia gravador. O gravador era de arame, que ninguém usava porque enroscava todo. Era ao vivo a gravação da novela. Um dia me mandaram uma foto minha dentro de uma estrelinha, escrito “os astros da radionovela”. Então, minha origem é do rádio, o improviso vem do rádio. Fui locutor, noticialista e repórter. Depois, fui para Porto Alegre, trabalhar na rádio Difusora, para pagar pensão e estudo. Trabalhava todo dia de 10 da noite a uma da manhã. Com 16 anos, fazia transmissões de um clube noturno, em um programa ao vivo, onde eu mostrava músicas do tempo de Luiz Bonfá. O rádio me deu muita cancha no improviso, na linguagem rápida, na concisão. Depois eu fui trabalhar no Banco do Brasil, mas o sangue me chamou de volta. Então, fui fazer faculdade na PUC de Porto Alegre e consegui um estágio no “Jornal do Brasil” que, pouco tempo depois, me efetivou. Subi rápido no “Jornal do Brasil” porque já tinha alguma experiência com rádio.
Marcone Formiga - Foi nessa época que foi enviado especial a Argentina.
Alexandre Garcia - Pois é. Eu comecei a cobrir a Argentina quando morreu o (presidente Juan Domingos) Perón. Era um período turbulento - havia a guerrilha do ERP e a guerrilha dos Montoneros. Eu cheguei a ser seqüestrado pela dos Montoneros (guerrilha nacionalista de esquerda, ativa durante os anos 70, na Argentina). O sujeito me botou no chão, colocou a metralhadora na minha nuca, disse que ia apertar o gatilho porque eu era um espião brasileiro. Ele viu a minha carteira e entre as credenciais achou a da Presidência da República. Ele viu o brasão da República e concluiu que eu fosse funcionário. Depois, ele disse que botou uma bomba na maçaneta e foi embora nos deixando presos. Aí chegou a polícia com o esquadrão anti-bombas, que acabou descobrindo que era uma falsa bomba. Tempos depois, descobriram um cadáver de uma pessoa que estaria tentando atravessar a fronteira com armas em Foz do Iguaçu portando meus documentos. Quando fui requisitar outro passaporte eu registrei o episódio, para que a pessoa, que usasse meu passaporte para entrar no país, fosse detida. Acontece que quem foi preso fui eu no aeroporto do Galeão. Fiquei preso durante horas. Liguei para o “Jornal do Brasil”, que ligou para a polícia. Fui solto com a condição de que eu voltasse no dia seguinte para provar que eu era eu mesmo.
Marcone Formiga - Você entrevistou a Isabelita (María Estela Martinez, viúva de Juan Domingos Perón, foi a primeira e, até hoje, única mulher a assumir a presidência da Argentina)?
Alexandre Garcia - Não. A Isabelita foi uma confusão comigo. Ela estava doente, com depressão, ficou internada no hospital da Força Aérea nas montanhas de Córdoba, que era uma espécie de retiro para tratamento mental. O “Jornal do Brasil” me pediu para que eu fosse tentar uma entrevista com ela. Chegando a Córdoba peguei um táxi e pedi para que o taxista me levasse até o hospital, em Ascochinga. Ele me respondeu que todas as estradas estavam fechadas por barreiras militares, mas como ele era da região, propôs me levar por estradinhas vicinais. Eu achei maravilhoso e fui com a maior irresponsabilidade. Quando eu cheguei à guarita o oficial imaginou que eu tivesse passado por todas as barreiras policiais e já veio me pagando continência e mandando entrar. Eu já estava pensando que havia sido a condessa Pereira Carneiro (diretora-presidente do Jornal do Brasil, na época) que ligou para ela dizendo que eu ia entrevistá-la. Entrei em outra sala. Daí veio um coronel todo lustroso, que me fez continência: “Señor, la señora lo espera!”. Eu pensei: “Puxa vida! Que recepção! A condessa fez o serviço completo”, mas eu comecei a sentir algo estranho. Ele começava a piscar o olho para mim, demonstrando certa cumplicidade. Então, eu perguntei: “Coronel, a presidenta está mesmo me esperando?”. Ele disse: “Si, señor. Tu eres el nobio. Nobio de la señora!”. Percebi a situação e falei que era um periodista de um jornal do Brasil. Quando eu terminei de dizer isso o coronel começou a ficar vermelho de raiva e começou gritar para que fosse embora. Depois, quando eu voltei para Buenos Aires e contei o episódio a um jornalista argentino, fiquei sabendo que o namorado dela atual era um oficial da Força Aérea da minha altura, magro, que tinha deixado a barba crescer e não usava mais farda.
Marcone Formiga - De jornalista credenciado no Palácio do Planalto você passou a viver uma experiência diferente - foi para o outro lado, como porta-voz do presidente João Figueiredo. Como foi, valeu a pena?
Alexandre Garcia - Foi válida e me ensinou muito. Fiquei 18 meses no cargo, de 1979 a 1980. Foi uma época politicamente muito boa. Houve a volta dos cassados e banidos, com a censura já abolida. Foi um período de transição em que, muitas vezes, eu atuei como mediador. O Freitas Nobre, líder do MDB, e o Alceu Colares, vice-líder, se encontravam com o presidente Figueiredo por meu intermédio; o Brizola mandava recado para o Figueiredo por meu intermédio. Um dos recados era: “Segure os militares no seu lado que eu seguro a oposição no meu lado e vamos os dois botar mais um tijolinho nessa democracia”. Aí o Figueiredo me dizia: “E você acredita nele?”. Eu dizia então que só estava retransmitindo o recado. Raul Ryff, que era porta-voz do Jango, certa vez em uma entrevista ao “Pasquim”, se recusou a criticar o Figueiredo, dizendo: “Olha, eu não conheço o general. Conheci o pai dele, que foi um democrata que lutou pela Revolução Constitucionalista de São Paulo (o general Euclides Figueiredo). Como não o conheço me recuso a criticá-lo”. Eu liguei ao Ryff para cumprimentá-lo e agradecer em nome do presidente. O José Escarlate estava na minha sala e noticiou isso no “O Globo” no dia seguinte. O Farhat (Said Farhat, na época ministro da Secretaria de Comunicação Social) ficou uma fera comigo, dizendo que eu não tinha nada o que falar em nome do presidente. Então vieram avisar que o presidente estava chegando ao Palácio do Planalto. Quando o presidente chegou me posicionei em fila - hierarquicamente, começando pelo general Golbery do Couto e Silva (chefe do Gabinete Civil), o general Danilo Venturini, e assim por diante - para cumprimentá-lo, lá no fim da fila. Naquele dia, quando abriu a porta do elevador, o Figueiredo me procurou e viu-me no final da fila. Foi direto na minha direção, deixando todo mundo de lado, para falar que tinha lido no “O Globo”, que eu tinha cumprimentado o Ryff em seu nome e completou: “Muito obrigado! É assim que faremos democracia”. Aí, eu flutuei, claro! E o Farhat ficou roxo de raiva.
Marcone Formiga - Foi um aviso que a função de porta-voz não seria nada fácil?
Alexandre Garcia - Eu aprendi com o Rubão Ludwig (Rubens Ludwig, ministro da Educação no governo João Figueiredo, e que fora porta-voz antes) que para ser porta-voz tem que se saber a música. Sabendo-se a música coloca-se a melhor letra para a ocasião. Eu sabia a música. Era “vamos fazer desse país uma democracia”. Essa foi a primeira vez que o Farhat ficou com raiva de mim...
Marcone Formiga - A primeira. Porque ocorreram outras. Qual foi a próxima?
Alexandre Garcia - O “Correio do Povo”, de Porto Alegre, me pediu uma entrevista para a edição de domingo. Aí eu fui perguntar ao Golbery se poderia dar essa entrevista, e este ficou de acordo. Mas eu sabia que teria que dizer alguma coisa importante para ser manchete. Não se limitar a falar sobre o dia-a-dia, sobre o óbvio, teria que falar algo interessante. Fazia dois meses que o governo tinha começado, e então Golbery me disse: “Pois diga que o sucessor do Figueiredo será civil”. Foi manchete do “Correio do Povo” no domingo, e na segunda-feira em todos os outros. O Farhat me chamou na sala dele dizendo que o presidente estava furioso e perguntando quem havia me autorizado a falar aquilo, já que era uma frase que teria que ser dita, com toda pompa e circunstância, pelo presidente e não por mim. Desconfiei que ele estivesse blefando e blefei também. Falei que havia sido o próprio presidente que mandou dizer. Depois disso ele mandou eu me retirar da sala. Daí por diante, eu passei a ser porta-voz direto sem passar pelo ministro, que era o meu superior imediato.
Marcone Formiga - Foi uma época muito rica de fatos...
Alexandre Garcia - Foi um período de muito aprendizado, além da satisfação de ter participado do processo de abertura e saber como funcionam as engrenagens do poder, as etapas de decisão que estão vigentes até hoje. Muita coisa hoje, como comentarista, eu deduzo, porque se eu sei um décimo posso deduzir os outros nove. Eu sei o que o presidente vai dizer sobre determinado assunto, porque todos dizem o mesmo. Não é uma adivinhação. É uma aposta com 98% de certeza, porque, lá dentro, o governo funciona igualzinho, seja de direita, de esquerda ou de centro. Isso eu aprendi lá dentro e trouxe para fora. Acho que um ano e meio foi suficiente para saber como funciona o outro lado. Conheci, digamos, o lado oposto do jornalismo. Passei a compreender melhor a insistência de quem queria furos, informações privilegiadas. Eu flagrei várias vezes, enquanto era porta-voz, jornalistas em lugares onde não deviam estar. Mas eu entendia...
Marcone Formiga - Por exemplo...
Alexandre Garcia - O Chico Dias (repórter na época de O Estado de S. Paulo), certa vez, pediu-me para entrar na Base Aérea de Belém, carregou minha mala para dizer que era o meu ajudante, e entrou comigo. Foi quando eu estava na beira da piscina, depois do almoço, e o chefe do SNI, general Octávio Medeiros, e o chefe do Gabinete Militar, general Danilo Venturini, conversavam sentados na borda da piscina. Então eu vi uma cabecinha debaixo d’água fingindo estar tomando sol. Era o Chico ouvindo a conversa dos dois! Fui falar com ele depois dizendo que aí já era demais, e ele, como já tinha ouvido o que queria, falou: “Pode deixar que eu vou embora”...
Marcone Formiga - Conta-se que o Said Farhat tinha ciúme de você e por isso provocou a sua demissão. Como foi esse episódio?
Alexandre Garcia - Eu havia sido entrevistado para a “Playboy” e aí o Flavinho Cavalcante, na época da Bloch, disse que a “Ele & Ela” também queria uma entrevista. Só que maior, com fotos. Fui perguntar para o meu guru, o ministro Golbery, que respondeu: “Pode, sim. Vamos, em breve, tirar o Farhat. Vamos extinguir a Secretaria de Comunicação Social e queremos que você fique como secretário de Imprensa. Nada como dar uma entrevista para uma revista masculina para projetar mais o seu nome, para virar depois secretário de Imprensa”. Dei a entrevista, revisei, praticamente copidesquei. Então aquilo que está lá é meu mesmo. O Flavinho me trouxe o primeiro exemplar que entreguei para o Figueiredo ler. O Figueiredo leu a bordo de um Búfalo em uma viagem a Pindamonhangaba. Até aconteceu uma coisa engraçada...
Marcone Formiga - O que foi? Ah, conta...
Alexandre Garcia - Estourou um cano do sistema hidráulico do avião sujando as calças do presidente... Quando ele foi trocar as calças olhou para mim e disse: “É perigoso tirar as calças na sua frente”! (risos) Foi a única observação que ele me fez a respeito da entrevista.
Marcone Formiga - Mas, voltando ao Farhat, seu algoz...
Alexandre Garcia - O Farhat tinha respondido uma carta da mulher de um goleiro do Atlético, que usou palavras de baixo calão para se referir ao presidente. Respondeu devolvendo as palavras de baixo calão. Aí a revista “Veja” pegou essa carta do Farhat e uma foto minha na entrevista, em que eu estava na cama, de bermuda. O fotógrafo me cobriu com o lençol até o tórax e tirou as fotos. A “Veja” pegou essa foto e a carta e lançou na capa: “Vulgaridade palaciana: enquanto o ministro da Comunicação Social usa palavras de baixo calão em carta, o sub-secretário de Imprensa nacional se deixa fotografar sob os lençóis em uma revista masculina”. O Farhat pegou aquilo e deve ter pensado: “Para tirar do meu eu vou botar no dele”. Então me chamou - e fiquei sabendo anos depois que ele foi pegar o sinal verde com o Medeiros e não com o Figueiredo ou Golbery - e veio, com toda força, com uma carta na mão para que eu assinasse pedindo minha demissão. O Golbery não foi porque estava em casa doente, mas me ligou uma hora depois: “Volta que vamos demitir esse turquinho agora!”. Eu respondi: “Desculpe, ministro. Eu não vou voltar porque não quero criar crise no governo”. O Farhat saiu uns 20, 30 dias depois...
Marcone Formiga - Aí, entrou a mídia eletrônica. Essa coisa de ter visibilidade não é um pedágio alto, porque se perde a privacidade?
Alexandre Garcia - A visibilidade nacional veio após a Presidência da República. Antes, eu assinava matéria no JB, mas uma vez ou outra aparecia minha cara. Eu apareci junto ao Juan María Bordaberry (ex-ditador uruguaio), em uma entrevista, na primeira página de um JB de domingo, dias depois dele ter fechado o Congresso. Foi a minha glória como jornalista escrito. A manchete era: “Bordaberry, exclusivo ao JB: ‘Todo poder é do civil’”. O civil era ele. Então, comecei a mostrar a cara na "Manchete" a partir de 1983. Eu ficava muito satisfeito com a repercussão. As pessoas vinham me falar: “Olha, o Armando Nogueira lhe elogiou porque você faz gestos, seus olhos falam, você gesticula”. Isso era no tempo que todo mundo pegava no microfone e ficava congelado, declamando uma “decoreba”. Eu conversava, era uma coisa coloquial. Isso foi proposital.
Marcone Formiga - Por que você saiu da Rede Manchete?
Alexandre Garcia - Eu saí da Manchete, por ter criticado a transmissão de Carnaval, dizendo que tinha vergonha da cobertura. Disse isso em uma conversa com a Cora Rónai e ela me pediu para usar na coluna dela e eu autorizei. Isso saiu no “O Globo”. Aí o Adolfo Bloch me ligou: “Você não pode criticar assim”. O fato é que, à noite, alguém convenceu o Adolfo que eu podia fazer um discurso contra a Manchete naquele dia. Não me deixaram entrar no ar. Eu estava no estúdio quando o Luís Fernando Valls, chefe de redação, falou que eu não poderia entrar. Fui para casa e quando eu voltei no dia seguinte, o seu João, o velhinho que cuidava do portão da Manchete, falou que tinha ordens do senhor Adolfo para não me deixar entrar. Voltei para casa e tinha um almoço com o Inocêncio Mártires Coelho naquele dia, na época procurador-geral da República, que me disse que o que havia sido feito era um impedimento do empregador de acesso ao trabalho. Então ele me aconselhou a procurar um advogado trabalhista e eu ganhei em todas as instâncias. No tribunal eu tive uma satisfação muito grande, já que foi voto unânime ao meu favor. O relator disse que meu insurgimento contra o empregador foi em defesa da sociedade, porque todos haviam visto que era um baixo nível a transmissão da Manchete. Foi a minha compensação.
Marcone Formiga - Tem gente aí querendo pegar carona na sua fama, se candidatando com o seu nome a deputado...
Alexandre Garcia - Já é a segunda vez. O nome dele é maior que Alexandre Garcia. Esse é só um pedaço do nome dele. Mas não ta colando. Na primeira tentativa, eu tive que avisar para não votarem em mim, que eu não era candidato. Tem que avisar para as pessoas não se confundirem.
Marcone Formiga - E a síndrome do plim-plim, aquela que acomete pessoas que começam, na Globo, como repórteres, depois evoluem e começam a aparecer frequentemente na tela e se portar como estrelas. E quando, por algum motivo, são demitidas, se desestruturam emocionalmente. Você conhece casos assim?
Alexandre Garcia - Eu fui diretor de jornalismo da TV Globo Brasília durante cinco anos. Eu costumava dizer o seguinte aos repórteres: “Não comece a levitar depois que você der o primeiro autógrafo na Rodoviária. Você está dando autógrafo não é por sua causa. É simplesmente porque você aparece na televisão. O responsável não é você, é a telinha. Não caia nessa armadilha de começar a achar que é astro, que deixou de ser jornalista, escriba, para ser artista”. Lembrando Mário Henrique Simonsen, que dizia que “a tragédia do trapezista é quando ele pensa que pode voar”.