domingo, 25 de julho de 2010

183) Inovação Social e Desenvolvimento: um caminho para o futuro, por Paulo Araújo.

Inovação Social e Desenvolvimento: um caminho para o futuro

Paulo Araújo

Uma nova perspectiva se abre para o trabalho dos Cientistas Sociais na esfera produtiva, nos governos, e no terceiro setor. É a inovação. Vários conceitos, de vários pontos de vista se colocam para tentar dar ares acadêmicos aquilo que nos diferencia desde o surgimento da humanidade, enquanto seres culturais inovadores. Há quem diga que a primeira grande inovação surgiu quando algum antepassado nosso decidiu não temer o fogo e tentou "tocá-lo" sem queimar-se usando alguma "ferramenta", um galho ou um osso, e percebeu que o instrumento se modificava e que poderia reter o fogo e transportá-lo, até sua domesticação que gerou aquecimento e o cozimento dos alimentos, modificando toda a nossa evolução como espécie. Também inovamos quando domesticamos pela necessidade de alimentação de cada vez mais indivíduos, seja pelas limitações climáticas seja pelo crescimento vegetativo, plantas e animais necessários ao nosso sustento. Inovamos na habitação, que passou de "tocas naturais" a casas com telhados, inovamos ao colocá-las umas sobre as outras nas cidades poupando território, enfim, somos definitivamente seres inovadores. Mas o que é inovação afinal? Gosto de minha definição simples, direta, clara, e objetiva: inovar é fazer diferente aquilo que faça a diferença! Enfim, a inovação não é apenas mudança, mas a transformação da maneira de fazer as coisas e do padrão da organização, anterior a sua introdução, produzindo ganhos. Nos mercados isso significa a criação de novas oportunidades e não apenas o aproveitamento das existentes. Significa, por exemplo, mesclar o teatro com o circo e superar os altos custos dos animais e o baixo preço dos ingressos, e conquistar para além do tradicional público infantil, os adultos sonhadores, como o fez o Cirque Du Soleil ao inovar na arte circense. Significa transformar o mercado quase inelástico do setor aéreo, numa opção comparável ao automóvel como fizeram a Southwest Airlines nos EUA e sua cópia brasileira, a Gol Linhas Aéreas, o nosso ônibus de asas. Ou como fizeram os Stúdios Pixar no mundo da animação, unindo tecnologia e criatividade, dando-a uma terceira dimensão, ou a Starbucks que encarou a venda de cafés como um estilo de vida e não como um simples produto corriqueiro (aliás, o café é péssimo, pelo menos para o gosto brasileiro). E tantos outros exemplos, como o que tentamos fazer com o conceito de Governança em Porto Alegre e em Natal, e com as metodologias de desenvolvimento local no terceiro setor, da Gestão Compartilhada de APLs - Arranjos Produtivos Locais, Brasil afora, ou como no conceito de FIB - Felicidade Interna Bruta em detrimento do PIB - Produto Interno Bruto como índice norteador dos esforços desenvolvimentistas, visando a felicidade ao invés do dinheiro, que já é tentado no Bhutão e que chama a atenção do PNUD para as próximas décadas pós "Objetivos do Milênio". Estamos entrando na era das idéias, onde "produzir" apenas produtos deixa de ser relevante, pois a China mostra ao mundo que é possível fazer de tudo, de maneira simples, barata, e rápida. Produtos passam a ser não apenas produtos, mas idéias, estilos de vida, modelos mentais conformadores dos padrões de consumo, representam, enfim, a "culturalização" das mercadorias. O consumo atingiu seu estado de "arte". A imagem vale mais que o real. A marca se sobrepõe ao produto. Disputar mercados nesse contexto é lutar como feras por um pedaço cada vez menor de alimento. Inovar significa encontrar o nicho, aquela "fatia" que ampliada e favorecida pelas redes sociais e pelas tecnologias de informação e comunicação, consegue ganhar escala e gerar riqueza. Aliás, "fatiar fino" e perceber as sutilezas das diferenças dos padrões de consumo passou a ser a regra na busca de novos mercados. Para ser capaz de inovar é preciso ser capaz de quebrar paradigmas, de pensar lateralmente, de romper as amarras do conhecimento compartimentalizado das disciplinas. É preciso formação eclética e visão ampliada. É preciso, perceber, sentir, ver de outra forma, e enfim, inovar. Os cientistas sociais têm, se assim perceberem, uma vantagem adicional nessa corrida inovadora, onde a cultura e as realidades locais são as matérias-primas dos produtos e dos mercados, que passam a coexistir numa lógica de espaço-fluxo, criadores-criaturas, forma-conteúdo, produto-consumo, ou consumo-produto. Trabalho agora, como Consultor Sênior de um Projeto Nacional do SEBRAE, em Pernambuco, com 10 ALI - Agentes Locais de Inovação, em 07 setores da economia: turismo e gastronomia, construção civil, gesso, tecnologia da informação e comunicação, móveis, e panificação, que têm o desafio de dentro das amarras de um projeto institucional com limitações na percepção do conceito ampliado de inovação e suas implicações na corporação, introduzirem uma cultura inovadora nas pequenas e micro empresas visando sua sustentabilidade. Sustentabilidade esta entendida como a introdução de elementos inovadores em gestão, nos processos, nos produtos e serviços, capazes de aumentar o faturamento e de favorecer sua sobrevivência no cenário competitivo traçado, através da diferenciação inovadora, seja em valor, seja na descoberta de novos negócios e nichos de mercado ainda inexplorados. É curioso ao falar sobre inovação, ver empresas se auto-proclamarem como inovadoras sociais. A 3M é um exemplo do que digo, dentre outros tantos centros difusores da inovação como o Innocentive(laboratório mundial de "cérebros"), Ninesigma, InnovationSeed, IDEO(design), etc. A inovação deverá estar na pauta das discussões sobre negócios e nas discussões sobre as reformas curriculares pelos próximos anos, assim como o gerenciamento de projetos e o empreendedorismo, começaram a figurar como assuntos a serem levados em conta na formação acadêmica dos futuros ocupantes dos postos de trabalho. O que fazemos aqui, é apenas antecipar o debate e chamar a atenção para os rumos a serem seguidos na direção da empregabilidade dos nossos pares, os cientistas sociais. Esperamos contribuir, através da nossa Federação Nacional dos Sociólogos, para que possamos unir a categoria e pensarmos um grande projeto capaz de inovar na nossa formação e proporcionar aos cidadãos brasileiros uma oportunidade de desenvolvimento de sua cultura inovadora, através de uma "nova política", a política exercida diretamente, pela "Governança Democrática". Uma política capaz de arar o terreno fértil do empreendedorismo e da emancipação econômica das parcelas excluídas desse debate sobre desenvolvimento. Demos aqui, apenas um pequeno passo inicial. Essa é a nossa vontade. Esse é o nosso novo desafio!

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